sábado, 13 de outubro de 2012

OPINIÃO: Hospital das Clínicas (HC) da UFPE: Um caso de humanização ou de humilhação? (Por Otávio Luiz Machado)



Hospital das Clínicas (HC) da UFPE: Um caso de humanização ou de humilhação?
Otávio Luiz Machado*

Ao tratar da situação dos hospitais precisamos nos remeter às políticas públicas de saúde do Brasil, que está bem longe de atender o cidadão com o devido respeito e o merecido retorno diante da alta taxa tributária que todos nós pagamos.
É uma questão de gestão pública, de interesse político e da sociedade. A imprensa pernambucana está cumprindo o seu papel de divulgar um pouquinho do que acontece dentro do HC desde o ano passado, como é o caso da falta de elevadores que levam os funcionários, visitantes (e pasmem!) até pacientes a ter de subir e descer escadas, conviver com a infiltração no prédio todo, a enfrentar filas etc etc etc.
O que fiquei sabendo é que tem um único elevador que só vez em outra não tem pane, enquanto os demais vivem quebrados. É praticamente um único elevador para transportar comida, água, remédios, funcionários, pacientes e até defuntos. É o único elevador que também transporta sozinho a indignação, a revolta e o sufoco dos que freqüentam o HC.
O Reitor Anísio Brasileiro “comemorou” dias atrás um ano de mandato. Há um ano e meio dizia em plena eleição para Reitor que o HC seria a prioridade número um. Dá para imaginar se o HC não fosse a prioridade das prioridades?
É preciso que os senadores e deputados federais de Pernambuco levem esses assuntos para o plenário e as diversas comissões do Congresso Nacional. Nessas horas fica a pergunta: por onde andam os parlamentares pernambucanos?
Não é exagero dizer que o HC piorou significativamente nos últimos tempos. A direção é a mesma já mais de meia década. Aí tem algo errado que precisa ser averiguado. Não é só a incompetência que está presente, não. Só uma auditoria profunda nas contas do HC é que vai se poder entender como os recursos são gastos, porque até água e alimentos demoram a “subir” para os pacientes que estão bastante debilitados, sem contar as moscas que ficam em cima deles. Será que os recursos não “sobem” para um atendimento humanizado na Medicina?
O total abandono do HC afeta o princípio universal da dignidade humana, sendo mais grave porque colocam muitas pessoas em condições que lembram os campos de concentração do nazi-fascismo.
         Mas com medidas simples vai se poder começar a resgatar a importância do HC. O Reitor Anísio Brasileiro, o vice Sílvio Romero Marques e a direção do HC deveriam aderir a um pacto urgente com a universidade e a sociedade de imediato. Que a partir de hoje eles serão usuários do HC, transferindo 100% das suas necessidades de atendimento de saúde para o HC sem nenhum privilégio. Eles vão encarar as filas, utilizarão os mesmos medicamentos fornecidos aos pacientes (quando tiver isso disponível), se ficarem internados vão experimentar a refeição e a água que o HC destina aos seus usuários e vão subir de escada se tiverem pressa ou alguma necessidade urgente.  Com essa atitude eu duvido que o HC não comece a melhorar. Está lançado o desafio!
         O Reitor e o Vice também poderiam fazer uma troca de espaços com o HC. Cederia seu gabinete para o HC, em contrapartida ficaria ocupando o último andar do HC até que a situação fosse melhorada no HC. Se os elevadores estiverem quebrados, que subam de escada como os outros por lá. O choque de realidade talvez dê aos dirigentes máximos da UFPE um choque de vergonha na cara, ajudando-os a trabalhar de fato para o HC.
         Outras medidas passam não apenas pelo modelo de gestão pública que tenha eficiência, mas com o melhor financiamento do HC. A chamada privatização do HC só vai mudar o modelo sem mudar o descaso. Também está em pauta a luta justa das 30 horas para os funcionários, que vai sendo ignorada solenemente pelas “autoridades”.
É fundamental que os estudantes e toda a sociedade pernambucana comecem a exigir do Reitor e do próprio MEC que as coisas mudem. Trata-se de um direito e de um ato cidadão, porque quem não poder fazer por essas que mais do que nunca precisam da solidariedade de todos para que o serviço público de qualidade esteja presente cotidianamente. É sendo feroz para ver se as coisas mudem – como já escreveu um importante intelectual – que daremos saltos no desenvolvimento social do Brasil. È preciso só começar a ver e a agir.

*É educador, pesquisador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

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