O que se fez com a
Comissão da Verdade de Pernambuco?
Otávio Luiz Machado*
Ao
ler dias atrás um editorial do JC, quando me deparei com um forte argumento em
relação à viabilidade ou não da divulgação de possíveis nomes que fizeram parte
do Comando de Caças aos Comunistas (CCC) em Pernambuco durante os trabalhos da
Comissão da Verdade de Pernambuco, logo de imediato reconheci que o editorial
não foi de todo exagerado, pois quando se entra no terreno do “achismo” o que se percebe é que argumentos como “ouvi
dizer”, “pode ser”, “talvez”, “existe a possibilidade” ou “quem sabe” passam a
fazer parte de um vocabulário que produz a meia-verdade diante do seu alto grau
de incerteza. Não é essa a função de uma comissão que propaga o direito à
memória, à verdade e à justiça.
Até
agora, no andar da carruagem, o que se percebe é que nem 10% dos casos que
estão sendo tratados pela Comissão terão alguma resposta de fato, o que vai ser
lamentável diante da expectativa criada
na sociedade e do empenho governamental para tal finalidade.
Em
2013 se completa 40 anos do período em que mais pessoas foram presas ou
desaparecidas em função da repressão política. Nas minhas contas 1973 foi o ano
que mais se matou ou desapareceu com pessoas em todo o período da ditadura
civil-militar de 1964, considerando que a repressão já não se contentava em
prender, torturar, forjar inquéritos, exilar ou banir adversários do regime; a
morte dos que resistiam aos desmandos do poder (com ou sem a apresentação dos
corpos) foi a regra desse período. Só foram diminuídos os casos com a
resistência dos militantes ou com a denúncia cada vez mais forte no exterior,
cuja pressão tinha algum resultado.
A
“oportunidade” que 2013 traz é rara, única, o que exige uma Comissão menos
burocratizada e mais transversal, que não só saiba ir buscar as fontes, mas que
saiba construir redes de colaboradores para que tenham em mãos informações de
verdade e não mais do mesmo “achismo” que acaba imperando nesses casos.
É
preciso inovação, imaginação coletiva, criatividade e muito trabalho para se
chegar ao possível, considerando que o necessário ainda está muito distante. É
preciso ousar e reagir a esse caldeirão de dificuldades de se resgatar uma
época tão conturbada e tão escassa de registros sobre crimes contra a
humanidade. É agora, porque nunca mais haverá tantas condições de se chegar a
um bom levantamento da época.
*É educador,
pesquisador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br