quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

OPINIÃO: O que se fez com a Comissão da Verdade de Pernambuco? (Por Otávio Luiz Machado)

O que se fez com a Comissão da Verdade de Pernambuco?
Otávio Luiz Machado*

 
Ao ler dias atrás um editorial do JC, quando me deparei com um forte argumento em relação à viabilidade ou não da divulgação de possíveis nomes que fizeram parte do Comando de Caças aos Comunistas (CCC) em Pernambuco durante os trabalhos da Comissão da Verdade de Pernambuco, logo de imediato reconheci que o editorial não foi de todo exagerado, pois quando se entra no terreno do “achismo”  o que se percebe é que argumentos como “ouvi dizer”, “pode ser”, “talvez”, “existe a possibilidade” ou “quem sabe” passam a fazer parte de um vocabulário que produz a meia-verdade diante do seu alto grau de incerteza. Não é essa a função de uma comissão que propaga o direito à memória, à verdade e à justiça.
Até agora, no andar da carruagem, o que se percebe é que nem 10% dos casos que estão sendo tratados pela Comissão terão alguma resposta de fato, o que vai ser lamentável diante da expectativa criada  na sociedade e do empenho governamental para tal finalidade.
Em 2013 se completa 40 anos do período em que mais pessoas foram presas ou desaparecidas em função da repressão política. Nas minhas contas 1973 foi o ano que mais se matou ou desapareceu com pessoas em todo o período da ditadura civil-militar de 1964, considerando que a repressão já não se contentava em prender, torturar, forjar inquéritos, exilar ou banir adversários do regime; a morte dos que resistiam aos desmandos do poder (com ou sem a apresentação dos corpos) foi a regra desse período. Só foram diminuídos os casos com a resistência dos militantes ou com a denúncia cada vez mais forte no exterior, cuja pressão tinha algum resultado.
A “oportunidade” que 2013 traz é rara, única, o que exige uma Comissão menos burocratizada e mais transversal, que não só saiba ir buscar as fontes, mas que saiba construir redes de colaboradores para que tenham em mãos informações de verdade e não mais do mesmo “achismo” que acaba imperando nesses casos.
É preciso inovação, imaginação coletiva, criatividade e muito trabalho para se chegar ao possível, considerando que o necessário ainda está muito distante. É preciso ousar e reagir a esse caldeirão de dificuldades de se resgatar uma época tão conturbada e tão escassa de registros sobre crimes contra a humanidade. É agora, porque nunca mais haverá tantas condições de se chegar a um bom levantamento da época.
 
*É educador, pesquisador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

OPINIÃO: Mais eficiência, menos imponência: ou a atualidade de um slogan estudantil dos anos 1960 (Por Otávio Luiz Machado)

Mais eficiência, menos imponência: ou a atualidade de um slogan estudantil dos anos 1960
Otávio Luiz Machado*

        Em 1960, quando os estudantes da antiga Escola de Engenharia de Pernambuco (atual CTG da UFPE) se insurgiram contra as deficiências de sua Escola, o objetivo principal era demonstrar que a criação de uma grande estrutura física de antemão se demonstrava obsoleta e deficiente para a tão sonhada modernização educacional que se apregoava, pois sem a contratação de técnicos especializados e de uma gestão mais atualizada e menos burocratizante nesse espectro nada adiantaria.
As lideranças cunharam sua luta “Mais eficiência, menos imponência”, fazendo um protesto público que marcou as gerações seguintes, pois serviu de parâmetro para as medidas adotadas posteriormente pelo corpo diretivo da instituição.
A reflexão de uma época histórica me veio após ter acesso aos últimos dados divulgados que apontam a queda dos índices de desempenho da graduação da UFPE, que de uma única vez retirou a UFPE como a melhor do Norte e Nordeste do País e colocou cursos antes bem avaliados na lista-negra dos cursos do MEC.
O grande trunfo da UFPE é a presença de um corpo docente qualificado, tendo a sua grande maioria com título de doutor, sem contar um corpo de estudantes bem preparados, o que ajuda no desempenho curricular.
No item de infra-estrutura, de número de bolsas para estudantes e de gestão de processos administrativos encontram-se enormes gargalos, assim comprometendo  a viabilização de uma permanência satisfatória nos cursos e  a maior fluidez no desempenho das atividades acadêmicas.
A atual gestão chega a 30% do seu mandato, dando respostas públicas após a divulgação dos resultados da graduação apostando em obras e mais obras.
Talvez uma resposta menos quantitativa e sem o demonstrativo de imponência – para varrer para baixo do tapete tantas outras questões prioritárias – fosse chamar a comunidade para um grande debate sobre a universidade que todos querem, pois é sabido que dessa vez não se pode dar uma justificativa na perda de posições nas avaliações com a tão comum falta de verbas, pois seu orçamento é de quase R$1 bilhão.
É preciso ouvir a sociedade que paga a conta, inclusive aperfeiçoando os canais de divulgação e de diálogo não só com o entorno do campus, mas com as comunidades periféricas, criando-se assim um campo de novas possibilidades e um novo discurso sobre universidade.
Em 2013 é a vez da divulgação da avaliação trienal da pós-graduação, tratando-se não apenas do ensino, mas também da pesquisa na instituição.
É preciso que a instituição se antecipe aos resultados dando respostas efetivas não só ao que os números trazem, mas trazendo do diagnóstico da situação global  os caminhos que devem ser percorridos para que só após a chegada dos números ações sejam tomadas.
 
*É educador, pesquisador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br 
 

OPINIÃO: O governo Geraldo Júlio no Recife (Por Otávio Luiz Machado)

O governo Geraldo Júlio no Recife
 Otávio Luiz Machado*
 
A gestão do prefeito Geraldo Júlio é aguardada com muita expectativa, pois a confiança depositada pelo eleitorado recifense nas propostas apresentadas é enorme.
Antes de tomar posse uma promessa de campanha chega pela metade, pois o secretariado e membros de outros escalões iminentemente técnico está muito longe do que se “vendeu” meses atrás ao eleitor
O novo prefeito também recebe uma prefeitura em condições muito diferentes daquela que o seu antecessor  prometia, pois os R$5 bilhões em caixa agora caiu para R$3 bilhões. Nem as melhorias no atendimento público prometido, no qual se dizia que seria sentido ao longo do final da gestão se concretizou. Como nem os buracos das ruas foram tapados, deduz-se que despesas não pagas podem vir a aparecer na planilha do novo prefeito.
Também caberá ao novo prefeito tratar assuntos difíceis não encerrados na gestão de João da Costa, como o projeto “Novo Recife” no cais José Estelita, os viadutos da Agamenon, o plano de cargos e carreiras da Guarda Municipal, a reabertura do Teatro do Parque ou a situação de famílias inteiras que vivem indignamente pelas ruas da cidade.
Pelo que se vê não vai faltar emoção diante de tantas “surpresas” que aguardam Gerald Júlio, nem tampouco muito trabalho para cuidar de fato das pessoas e da cidade como deve ser de verdade. No quesito “sorte” só o tempo dirá, pois João da Costa não foi amigo dessa daí em seus quatro anos. E “sorte” é um elemento intangível em qualquer empreendimento humano.
O que vai ser cobrado é a construção de uma cidade num novo patamar de qualidade de vida e de inclusão social, o que é obrigação de quem governa. Noutros lugares os cidadãos conquistam direitos de ter uma vida melhor e não pagam para ter sua vida  piorada a cada dia. É preciso de uma gestão que dê vida à cidade e faça o orgulho voltar a todos que nela habitam. Aí já é um bom começo.  
 
*É educador, pesquisador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

OPINIÃO: Um dia memorável em defesa da dignidade humana: a fundação do Sindicato das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Comércio Informal de Recife-PE (Por Otávio Luiz Machado)

Um dia memorável em defesa da dignidade humana: a fundação do Sindicato das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Comércio Informal de Recife-PE
Otávio Luiz Machado*

“Vamos precisar de todo mundo,
para varrer do mundo a opressão,
para construir a vida nova,
vamos precisar de muito amor
(...)
Vamos precisar de todo mundo,
Um mais um é sempre mais que dois.
Para melhor juntas as nossas forças,
É só repartir melhor o pão” (Beto Guedes).

Ontem não foi um dia especial  só porque   um 12-12-12 pôde ser comemorado, o que se repetirá somente após um século, quando raramente um dos viventes de hoje vai poder estar presente para comemorá-lo.
Foi um dia mais do que especial,  porque uma categoria que faz parte do cotidiano de nossa cidade e nem sempre é respeitada, valorizada e vista como detentora de direitos deu um passo importante para resgatar a sua dignidade, mudar sua imagem pública e transformar a opressão diária em instrumento de transformação de si própria e da sociedade como um todo.
A fundação do sindicato das trabalhadoras e dos trabalhadores do comércio informal de Recife-PE vem trazer um novo conceito  para um tipo de representação sindicalizada que infelizmente anda muito em baixa no nosso País, ora porque estão engessados pela excessiva burocratização da sua atuação, ora porque estão cooptados pelos poderes que não cansam de oferecer favores em troca do silêncio, da omissão ou mesmo da subordinação irrestrita aos seus caprichos e cartilhas.
O sindicato em questão não poderá cometer os mesmos erros da maioria dos nossos sindicatos, porque ele é fruto do acúmulo de forças e experiências desde o início de 2011, quando pela primeira vez os comerciantes informais foram desafiados pela truculência vinda de cima que não mediram esforços para colocar pessoas na condição de coisas, uma atividade laboral digna no status de algo fora da lei e criminosa e um assunto que exigiria respeito e diálogo sendo resolvido à base de bala, gás lacrimogênio e cacetete.
O mais engraçado nessa história foi perceber quem estava contribuindo para essa injustiça: uma prefeitura municipal cujo slogan é “a cidade cresce cuidando das pessoas”   e uma universidade federal que diz ser “referenciada socialmente”. Foi a tentativa de retirada dos barraqueiros de parte do Hospital das Clínicas da  UFPE que pela primeira vez  fez despertar uma verdadeira consciência de classe nesses trabalhadores e trabalhadoras.
Foi desse episódio que saiu a primeira semente para a organização de uma associação dos barraqueiros da UFPE, que posteriormente avançou como Coletivo de Luta Comunitária (CLC) e por fim chegou ao sindicato do qual trato nesse texto. Por isso falo da diferenciação desse sindicato em relação aos demais,  porque ao longo de sua pré-formação foi  alargando suas bandeiras, colocando para dentro outros grupos também em condição desprivilegiada, como os moradores de comunidades ameaçadas de despejo de áreas que conquistaram e começaram a forjar uma luta para conquista dos direitos humanos básicos: o de morar e o de trabalhar.
Sou um daqueles que pude testemunhar toda essa luta,  porque a vi nascer e tentei dar uma pequena colaboração desde o seu início. Não tenho só imagens memoráveis na minha memória, mas tenho imagens que produzi e uma singela produção acadêmica que trata disso, cujo livro está aqui:


Tive o pique suficiente para estar no primeiro grande protesto que percorreu todo o campus da UFPE e resultou no fechamento da BR-101, nos protestos no centro da cidade (ou na frente do Hospital Barão de Lucena) e na ocupação da Câmara Municipal (ou da própria prefeitura  de Recife). Sem contar nos protestos de outros grupos no qual esse coletivo que fundou o sindicato também se envolveu.
  Digo que o sindicato do comércio informal de Recife não poderá se apequenar como tantos outros congêneres assim o fizeram porque ele não foi criado apenas para dar resposta a uma situação imposta pela Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Ele foi criado para acima de tudo dar dignidade a uma categoria que tem sido massacrada ao longo de décadas, cuja luta não se encerra, jamais. A reparação histórica e a conquista de novos direitos é a luta de uma vida, eis aí o meu desejo de vida longa a essa entidade.
Num próximo texto trarei uma análise do momento ímpar da sessão de fundação do sindicato.
P.S. Eis aqui algumas imagens do dia memorável de ontem: