quinta-feira, 27 de junho de 2013

OPINIÃO: SOBRE O MODELO DE EDUARDO CAMPOS PARA REPRIMIR (Por Otávio Luiz Machado)

OPINIÃO: SOBRE O MODELO DE EDUARDO CAMPOS PARA REPRIMIR 
Por Otávio Luiz Machado

Quem acompanhou o desdobramento dos protestos ontem (26/06/2013) na cidade de Recife deve ficar se perguntando por qual motivo um governo tão bem avaliado pela população pernambucana precisa reprimir protestos de jovens que só querem pedir maior atenção para os problemas da cidade.
Em nota, quando o governador afirmou que teria atendido todas as reivindicações, o que se percebe de imediato na tentativa de neutralização do movimento é mais um ato de cinismo do próprio governador, que continua insistindo que no Estado de Pernambuco está tudo às mil maravilhas, que ele é competente e olha pra frente.
Como se olha pra frente, quando não se percebe que é no presente - e no que se apresenta como desafios atuais - que precisamos estar atentos para construir o futuro? E toda e qualquer manifestação que mostra outro caminho para o futuro precisa ser considerada. Não simplesmente reprimida. 
Mal viramos o ano para 2013 e víamos mais um órgão do governo de Pernambuco tratar o caso do assassinato de um estudante da UFPE vindo da periferia como um Zé Ninguém. Só com a mobilização dos seus amigos e colegas que foi possível tratar esse caso com o devido cuidado, pois o IML até então se recusava a aprofundar o seu trabalho de perícia.






No ano passado, também, quando o governador Eduardo Campos baixou uma medida para reduzir os protestos, o que se via mais uma vez foi a pouca disposição para o diálogo quando o povo ganha as ruas. Sua atenção parece estar focada nas reuniões de gabinete, nos acordos de bastidores e na tranquilidade do Palácio. Bem longe do calor das ruas e da alma guerreira de Pernambuco.





Nos protestos que aconteceram dias atrás nem a imprensa foi poupada, porque teve caso de repórter fotográfico que passou pelo constrangimento de apagar suas imagens por revelar ações ilegais da PM na abordagem aos manifestantes. 
Nos protestos de ontem mais uma vez aconteceram prisões de manifestantes de forma arbitrária, que ficaram horas na delegacia à espera de uma posição da autoridade responsável, inclusive sem o devido atendimento correto aos advogados que lá estavam para garantir a devida defesa jurídica dos presos. 
Até falta de identificação dos agentes do Estado fez parte desse momento, sem contar o envio de estudante para o presídio sem nenhuma possibilidade de defesa prévia, tendo como acusações fatos ridículos e desamparados de robustas provas. 
Com tudo isso não se pode falar em ambiente democrático em Recife, porque as autoridades fazem de tudo para abafar a voz do cidadão, tendo como único molde resquícios de uma ditadura civil-militar que a sociedade brasileira recusou anos atrás.
A liberdade dos presos durante os protestos é a única atitude digna esperada do governador de Eduardo Campos nesse dia de hoje.














E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br


sábado, 22 de junho de 2013

OPINIÃO: O pôrque dos atuais protestos no Brasil (Por Otávio Luiz Machado)

O pôrque dos atuais protestos no Brasil
Otávio Luiz Machado*

         Muitos me perguntam como foi possível de uma hora para outra a ocupação de espaços públicos em todo o País por milhares de pessoas sem que aparentemente houvesse um fato decisivo que o desencadeasse.
         É primeiro relatar que múltiplos protestos já aconteciam espalhados sem conseguir agregar muitos participantes país afora, embora com muita repercussão na imprensa e na sociedade, conforme nossas pesquisas já registraram com os protestos dos estudantes contra o aumento das passagens e em prol da melhoria dos serviços públicos, as marchas pela ampliação de direitos como a descriminalização da maconha, os direitos LGBT e das mulheres, a luta comunitária dos trabalhadores informais e dos atingidos pelas obras da copa e do reordenamento urbanos com participação popular, incluindo a resistência à privatização ou degradação das áreas de convívio coletivo e da denúncia do impacto das obras de mobilidade para a copa.
         Todos esses movimentos passaram a se conectar gerando uma consciência de solidariedade que apontava para a necessidade de uma nova cidadania e da radicalidade democrática, o que a bibliografia mais recente tem apontados nos mais diversos movimentos do Occupy, por exemplo.
         Nos meus livros MÚLTIPLAS JUVENTUDES: PROTESTOS PÚBLICOS E NOVAS ESTRATÉGIAS DE MOBILIZAÇÃO JUVENIL EM RECIFE e PROTESTOS PÚBLICOS E OUTRAS CENAS DE CIDADANIA busco trazer o cotidiano dos protestos em análises e imagens, o que corresponde ao que penso estar produzindo os atuais protestos. Podem ser analisados e baixados aqui:



         Os coletivos já mobilizados em períodos anteriores conseguiram atingir o centro da insatisfação popular nesse momento, que vem de um princípio de desesperança quanto aos rumos do País, conforme vimos no cenário de guerra urbana.
         É natural para o ser humano produzir uma reação descontrolada numa situação de indefesa, porque se os sindicatos, entidades oficiais que representam os principais movimentos sociais e o próprio setor público até então não fizeram muita coisa para a resolução dos problemas que nos afligem, foi a saída às ruas o único caminho diante dessa indefesa coletiva.
         A frase ímpar que representa essa posição foi a seguinte: “Desculpe o transtorno; estamos mudando o País”. Diante das exclusões que levam para longe do conjunto dos cidadãos uma condição de sujeitos de direito, a preocupação quanto ao futuro do País falou mais alto, porque a perda do poder aquisitivo com a volta da inflação e esse  pano de fundo de uma copa do mundo nada “rentável” para a maioria que somos nós exigia no mínimo uma resposta, uma reação, um grito.  
Se a denúncia está justamente no distanciamento dos anseios populares do poder público, a aproximação marcante de tantos movimentos e pessoas certamente vai diminuir esse fosso entre o Estado e a sociedade civil a partir de agora.
O pronunciamento da Presidenta Dilma passa um atestado de incompetência incrível, pois se o momento é de “ouvir as vozes democráticas que exigem mudanças” (Dilma em pronunciamento em 21 jun. 2013), por qual motivo isso não foi estimulado anteriormente? Os conselhos, as ouvidorias, o Parlamento, os movimentos dito organizados e a oposição que estão aí denunciando não tiveram força ou interesses suficientes para que muitas das nossas demandas se tornassem efetivos.
A Presidenta diz que quer ouvir as lideranças, mas para ouvir mais o que? Não é possível que não tenha ouvido até agora o que a população reclama em alto e bom som pelas ruas, praças e pontes do nosso País.  Não é possível que nenhum nível de governo conheça as demandas e os gargalos, cuja obrigação agora é de agir para o atendimento do que não tiveram capacidade nem interesse de realizar. É preciso diminuir a incompetência em órgãos públicos, como no comando da educação, da economia, da cultura, do planejamento, etc.
A Presidenta produziu uma verdadeira pérola no seu pronunciamento ao dizer que não se pode tolerar essa violência dos protestos, porque ela envergonha o Brasil. E a violência “comum” não envergonha o País? E a impunidade dos corruptos não igualmente envergonha o País?
Será nesse espaço entre o atendimento das demandas e o realinhamento do poder público em sintonia com a sociedade que se encontra o teste de fogo da democracia brasileira.
         Não foi só o sentimento de indefesa coletiva que produziu os protestos que tomaram o País, mas o sentimento de expropriação coletiva vindo com o diferencial para a copa em contraste com a indiferença com os serviços públicos essenciais voltados ao cidadão que vive no andar de baixo.
         As imagens do luxo dos estádios (Padrão Fifa) que abrigarão muitos poucos – contrastando com os prédios públicos – é o mais claro exemplo de que os políticos fazem as dívidas e manda a fatura para o povo pagar, configurando como mais uma incompetência dos órgãos públicos.
         Essa dívida enviada para o povo pagar, como compromete o presente e o futuro de todos nós que gerou esse sentimento de expropriação permanente e indefinida que levou uma multidão às ruas.
         As pessoas acuadas pela violência urbana, pelo enxugamento maior dos seus orçamentos e pelo cinismo dos governantes que não conseguem nem explicar como vão solucionar os problemas mais elementares do País, percebeu no contexto de uma pré-copa com esse torneio das Confederações que até agora nada do que foi prometido que  viria com a copa surgiu ou haverá possibilidade de acontecer.
A “internet” já vinha fazendo um trabalho de cidadania incrível, que engloba todas as faixas etárias, classes sociais e espaços geográficos diversos. Foi uma variável fundamental para a mobilização popular, pois a cada momento fica difícil não saber das coisas que acontecem e não se revoltar.
Mas foi o Movimento Passe-Livre, que não estava contaminado com esse ranço da política tradicional que deu credibilidade  e abertura de espaço para inúmeros grupos de movimentos juvenis até alcançar parcelas significativas da população. Que permitiu agrega diversos num movimento num só, principalmente de vários que nem se "bicavam" ideologicamente. 
Vimos mais uma vez os movimentos de juventudes emprestar o seu potencial para dar voz aos justos anseios  de toda uma sociedade. Nós que estamos aí produzindo cidadania aos jovens desde longa data contribuímos um pouquinho para a formação cidadã e a reflexão crítica de movimentos e jovens que foram à ruas novamente, o que os atuais protestos nos orgulham e nos dizem que precisamos fazer muito mais.


*É pesquisador, educador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

sexta-feira, 21 de junho de 2013

OPINIÃO: QUE EU DESORGANIZANDO, POSSO ME ORGANIZAR... (Por Sil Crisostomo)

QUE EU DESORGANIZANDO, POSSO ME ORGANIZAR...

“Maio, nosso maio” foi repleto de mobilizações em todo o Brasil e apesar das festas realizadas nos quatro cantos do mundo, houveram movimentos sociais e partidos políticos em meio às ruas, gritando e protestando: “As mãos pra cima, punhos erguidos, é dia 1º, dia de LUTA! Vem pra rua agora, conquistar direitos, é dia 1º, dia de LUTA!”. Pautando as bandeiras de lutas históricas, arduamente defendidas pelas organizações de esquerda, vamos cotidianamente defendendo com unhas e dentes a universalização dos direitos sociais conquistados.





Chega o mês de junho, culturalmente, é mês de festa no Nordeste. Cidades repletas de bandeirinhas coloridas, balões, fogueiras e povo na rua. Mas agora, além da festividade junina que está por vir, temos pessoas nas ruas, gritando, cantando e lutando pelos nossos direitos. Milhares de pessoas, em todo o Brasil, seguem em marcha, desde São Paulo à Belém, de Porto Alegre à Recife, formada por várias gerações e ideais. Nesse sentido, o momento histórico que estamos vivenciando, está repleto de contradições, permeado por avanços e retrocessos.
É inegável a beleza e força contagiante ao ver tantas pessoas juntas, inclusive, aquelas que acreditam na impossibilidade da mudança e que estão indo pela primeira vez a um ato de rua, lutando por melhorias e mudanças concretas, a exemplo do estopim com o aumento da passagem de ônibus e sua consequente revogação em SP. Isso mostra que, coletivamente, temos força, e que a luta deve ser nas ruas.
Entretanto, a heterogeneidade de reinvindicações e da formação do processo político em que se gesta às atuais mobilizações nos inquieta, tendo em vista as disputas dos projetos de sociedade: direita e esquerda. Há quem diga que somos uma única nação, e essa é uma das mais perigosas afirmações, negando a existência daqueles que, cotidianamente, exploram e dos que são explorados.
A direita vem se utilizando da justa indignação da classe trabalhadora para pautar lutas despolitizadas, como a CORRUPÇÃO. Isso não significa dizer que somos a favor da corrupção, ao contrário, também somos contra (toda a Esquerda), assim como FHC, Collor, Jarbas Vasconcelos e todos os políticos da direita. Sendo assim, esse discurso contra a PEC – 37 esvazia o conteúdo político de lutas reais e necessárias para a massa que está nas ruas, como o PASSE LIVRE para estudantes e pessoas desempregadas; TARIFA ÚNICA nas Regiões Metropolitanas, colocando abaixo a existência dos diferentes anéis/preços; REDUÇÃO das tarifas e do LUCRO das máfias do transporte público; dentre outras pautas, como um maior investimento do PIB na EDUCAÇÃO (10%) e SAÚDE PÚBLICA; a DEMOCRATIZAÇÃO dos meios de comunicação, pela JORNADA de 40h, etc.
O projeto da direita é viabilizado pelos grandes grupos empresariais, a exemplo da mídia com a Revista Veja e a Rede Globo, que apenas notificam os conflitos e brigas que estão acontecendo nesses protestos, além de incitar que toda essa mobilização seja apartidária, culminando na defesa do anti-partidarismo. A maioria dos que estão nas ruas e nas redes sociais está sendo manipulada, sem se dá conta da reprodução de toda a-criticidade propagandeada. Também é notória, a utilização de outros mecanismos pela direita, inclusive, possuindo uma simbologia positiva entre vários manifestantes, como o Anonymous.
Diante dessa conjuntura, precisamos estar atentos a tudo que vemos, lemos, ouvimos, precisamos desconfiar do óbvio. O medo de ser “massa de manobra” dos partidos de esquerda está fazendo com que a população, ainda sim, seja manobrada. Precisamos da UNIDADE entre as forças que sempre pautaram mudanças contra a exploração vivenciadas e do entendimento do POVO sobre o atual cenário.
As bandeiras de lutas defendidas durante décadas pela Esquerda são as mesmas do POVO BRASILEIRO, dos que acordam às 4h/5h da matina para irem trabalhar, que se utiliza de vários ônibus ao longo do dia, para ir e voltar da labuta diária, os que destinam boa parte do seu salário em um transporte público caro e sem qualidade. Nessas manifestações em todo o Brasil estão presentes, os que sofrem e lutam diariamente. Há uma efervescente indignação ao descaso vivido e isso significa uma CHAMA DE ESPERANÇA.
Nessa BATALHA DE IDEIAS, a luta se concretiza nas ruas, ultrapassando o discurso de “massa alienada” e politizando os espaços, em um sentido de conscientização coletiva e emancipatória. Devemos vencer o ufanismo da pátria amada, ressignificando nossa “ordem e progresso” em prol de um projeto popular, DO e PARA o povo. Superando, também, o derrotismo e generalizações, pois “nada deve parecer impossível de mudar”, como já disse Brecht. O momento é de termos muita mística e agitação nessa disputa de mentes e corações. Sabendo que desorganizando, podemos nos organizar, além da certeza de que sempre é preciso fazer muito mais.
Silvana Crisostomo – militante do Levante Popular da Juventude
“Eu acredito
É na rapaziada
Que segue em frente
E segura o rojão
Eu ponho fé
É na fé da moçada
Que não foge da fera
E enfrenta o leão
Eu vou à luta
É com essa juventude
Que não corre da raia
À troco de nada
Eu vou no bloco
Dessa mocidade
Que não tá na saudade
E constrói
A manhã desejada...”
“E Vamos à Luta” - Gonzaguinha


OPINIÃO: A hora é de Eduardo Campos? Ou a repercussão eleitoral dos protestos pelo Brasil afora


A hora é de Eduardo Campos? Ou a repercussão eleitoral dos protestos pelo Brasil afora

Otávio Luiz Machado*

É fato que tivemos a primeira vez em que as redes sociais tiveram um grau de utilização intensa com muitos resultados positivos no Brasil, tanto na mobilização para os protestos de indignação de quase todo o povo, como na difusão imediata de informações, imagens e opiniões praticamente disponíveis em tempo real.
A repercussão eleitoral dos protestos já emitem fortes sinais de que poderemos ter nas próximas eleições presidenciais uma mudança significativa das chances de quem aparentemente poderá vencer o pleito com mais facilidade, cujo semelhante resultado foi percebido em diversos países do globo em momentos recentes.
O processo civilizatório do País entrou nessa semana num estágio mais avançado, pois aquilo que chamamos de brasilidade (a condição de sermos brasileiros) ganhou novos sentidos. Numa situação em que no momento da seleção brasileira, quando pararia o Brasil, o que se viu foi um movimento popular chamar mais atenção de todo o País, invertendo a lógica perversa que nos persegue: País do futebol, do jeitinho brasileiro, do marasmo e da indolência do povo eternamente enraizadas na nossa cultura.
O País não será o mesmo ao terminarmos essa semana. Só tínhamos condições de cantar em coro o hino nacional quando o time do Brasil entrava em campo e isso era televisionado em rede nacional, mas não em tantos espaços públicos por todo o país num mesmo dia e em locais que não possuem um formato de uma construção arredondada, com uma estrutura de arquibancadas e cujo atrativo são pessoas correndo atrás de uma bola.
Não é exagerado dizer que foram os supostamente vândalos – reprimidos preventivamente pela PM de São Paulo sem nenhuma ação inicial por parte deles – que mudaram a cara do País, nem tampouco dizer que em poucos dias conseguimos fazer o que as políticas públicas de segurança até hoje não conseguiram: o início da humanização da polícia. A cena de policiais utilizando apetrechos brancos chamando a atenção para o diálogo e a melhor convivência humana e distribuindo rosas ou panfletos pedindo paz em diversas cidades do País foi marcante, como assim o foi o impacto das notícias da imprensa que aparentemente apontam o começo do fim do divórcio da maioria da imprensa com os movimentos reivindicatórios.
Era difícil prever que tantos estigmatizados como vândalos ou os ditos radicais espalhados pelo País– os que se arvoraram no enfrentamento com a PM ou para o quebra-quebra – puderam detonar aquilo que faltava muito entre nós: a vergonha na cara. Que nos levava ao conformismo e ao silêncio.
Nesse contexto não é desprezível o argumento de que a hora de Eduardo Campos é agora, o que significa dizer que a conjuntura política mais uma vez torna-se favorável a quem vem investindo muita propaganda para passar a imagem de que ele é parte de uma gestão pública que faz acontecer com benefícios mais eficazes à população, o que tem sido a principal reivindicação dos milhões de brasileiros que foram às ruas no dia de ontem (20 de junho de 2013) denunciar publicamente o desperdício e a incompetência do poder público nas suas mais diversas instâncias pelo Brasil.
         O que tivemos no Brasil nessa semana faz parte de um acontecimento histórico singular. Nunca tantos movimentos organizados sem uma estrutura oficial levaram inúmeras pessoas para ruas ao mesmo tempo (e nas mais diversas partes do País). Nem tiveram uma adesão popular recorde num curto intervalo desde sua deflagração, o que fez com que sindicatos e entidades estudantis constrangidos aderissem irrestritamente e imediatamente.
         O que se vive com os protestos é uma variável fundamental que impactará nas eleições de 2014. Algo que não pode ser desprezado. Tentarei puxar um fio para que possa leva-lo à situação de um único pré-candidato, considerando que sempre acompanhamos um analista encasulado usando espaços preciosos como blogs (e até em jornais impressos) de forma obsessiva, repetida ou sistemática para “bater” em Eduardo Campos, dando seu “parecer” como se Eduardo não tivesse condições e nem merecesse disputar a presidência da República. Se é uma “análise” geralmente vinda em textos claramente escritos com muita pressa, que coloca argumentos vindos de como ele quer que as coisas sejam sem nenhuma base de reflexão que traga uma cientificidade mínima, também é do mesmo cidadão que anda choramingando por aí que não encontra espaço na imprensa para colocar críticas contra Eduardo Campos, se sentindo abafado, censurado, podado.
É preciso ter responsabilidade ao se escrever um texto, pois o único que devemos satisfação nesse momento é o leitor, que merece dados minimamente precisos. Um texto divulgado não merece servir única e exclusivamente como criação de plateia usada para aplaudir e encher a bola do autor. Nem sempre conseguimos atender a todos os requisitos necessários para a produção do texto ou conseguimos suprir a maioria das expectativas daqueles que nos lê. O que vale mesmo é o debate aprofundado e sincero em cima do que escrevemos.
É preciso pelo menos tentar alcançar um equilíbrio naquilo que tentamos passar aos que nos lêem, principalmente num momento em que ainda não estão muito claras as nossas impressões, considerando que vivenciamos os fatos na sua plena e conturbada ocorrência. Mas eu me arrisco nesse momento a correlacionar tudo que vivenciamos com as reais possibilidades de uma candidatura Eduardo Campos à presidência.
         Se calcularmos que cerca de 5 ou 10 milhões de brasileiros e brasileiras (fiz um cálculo a partir dos informes que recebi de todo o Brasil vindos dos próprios movimentos) ganharam os mais diversos espaços públicos para protestar justamente pelo melhor oferecimento de serviços públicos (transporte, educação, saúde, principalmente) e a melhor aplicação dos recursos públicos, é real que 5% da população brasileira esteve presencialmente num ato de profunda indignação contra o sistema político brasileiro, mas que afeta diferencialmente mais uns do que outros no dia de ontem (21/06/2013).
         Se ainda consideramos que parcelas significativas dos 95% que não estiveram ligados diretamente nos protestos tiveram acesso às horas e horas da transmissão ao vivo pela Rede Globo ou redes sociais mostrando a indignação por todo o País, o que se vê é que certamente eles foram contemplados, assim mais uma vez afetando diferencialmente mais uns do que outros que ocupam cargos públicos a frente de municípios, Estados e o próprio governo federal.
         O prefeito mais prejudicado nisso tudo é sem dúvida alguma o Fernando Haddad (de São Paulo), que abaixou a passagem depois de afirmar diversas vezes que não abaixaria de jeito algum. Que realmente nem chegou a dialogar com os participantes dos protestos antes de dar o seu “não”, tendo o seu “sim” referendado só quando o movimento se tornava vitorioso nas ruas.
         O governador mais prejudicado é o do Rio de Janeiro, que mesmo tendo recuado no valor da passagem (em parceria com o prefeito Eduardo Paes), também não está oferecendo nenhuma perspectiva da melhoria do oferecimento da qualidade do serviço público (que é péssimo e caro por lá), sem contar que a recente privatização do Maracanã (após os investimentos vultosos do poder público) vai de desencontro ao que está sendo reivindicado em todo o País. O governador só fez a já conhecida equação: socializar os prejuízos com a população simultaneamente com o patrocínio da apropriação privada dos lucros
         A soma de toda essa indignação atinge em cheio o governo federal, cuja mandatária não está correspondendo à imagem da competente gestora público construída desde o governo Lula, da figura intransigente com a corrupção que aparecia no início do atual mandato presidencial ou da gestora firme para a contenção das despesas pública. A figura acuada da Presidenta após a tríplice rajada de vaias na abertura da Copa das Confederações mais uma vez foi percebida pela maioria absoluta dos brasileiros, ainda.
         Se em última instância o governo Dilma (e do PT) herda toda a indignação dos protestos, no caso de Pernambuco não existe grande associação direta dos temas reivindicados ao seu governo mesmo após a ocupação de cem mil pessoas nas ruas de Recife.
A figura de Eduardo Campos está numa zona de conforto extraordinária. Ele pode ser de situação e oposição quando lhe convém, não sofre muitos arranhões nesse momento de comoção nacional, recicla práticas da velha política transformando-as em algo novíssimi e ainda capitaliza nisso tudo com a imagem do gestor que “entrega” com mais qualidade (e com menos tempo) o que a população pernambucana aguarda.
No tema do momento Eduardo também possui muito a seu favor. Se inicialmente o discurso do governo federal de quem iria financiar a copa seria a iniciativa privada através de parcerias público-privado, o que vimos é o financiamento público acima algumas vezes do valor inicialmente traçado, com as benesses federais, seja através de financiamentos de pai para filho para as empresas, seja através de recursos e infra-estrutura para o luxuoso desfrute dos camarotes “especiais” para autoridades e convidados. Algo que ainda só servirá até a entrega do troféu ao time ganhador na final da Copa de 2014, ficando sem grande uso no dia seguinte.
         Se o governador escolheu um local relativamente longe (mas com inúmeras possibilidades de novas construções no seu entorno) como São Lourenço da Mata para o estádio de Pernambuco (traçando uma estratégia para que depois da Copa o estádio e seu entorno fosse utilizado em parte para a Universidade de Pernambuco e empreendimentos imobiliários), já mostra aí um diferencial que será muito capitalizado caso venha a ser candidato a presidente da República, pois vai dar a impressão do financiamento privado com ganho para o setor público, em suma, um negócio vantajoso para o Estado de Pernambuco.
A privatização a rodo de Dilma em aeroportos, rodovias e portos no segundo semestre de 2013 para elevar o superávit primário vai gerar um clima de que para se ter um serviço que deveria ser oferecido pelo poder público o cidadão tem que tirar do bolso para pagar. Se quer andar numa rodovia com o mínimo de segurança, só pagando pedágio para as concessionárias; se quer um atendimento melhor no serviço de saúde, só pagando um bom plano de saúde; se quer ter mais conforto nos aeroportos, só pagando taxas mais elevadas.
É incrível os investimentos privados atraídos pelo governador de Pernambuco e a sua defesa na continuidade da estatização do Porto de Suape, contribuindo para se passar a imagem de que ele consegue o possível e o desejado: o privado deve entrar em áreas que efetivamente possam produzir e não se aproveitar do público para se beneficiar pura e simplesmente.
Na área econômica, com a inflação descontrolada, o baixo crescimento econômico e a redução do nível de empregos, o que se verá imediatamente é a queda das condições objetivas para uma disputa com grandes possibilidades de vitória por parte da Presidenta Dilma, o que mais uma vez beneficia o governador Eduardo Campos.
Com a possibilidade do governo Dilma entrar em frangalhos nos próximos capítulos, o desembarque do governador Eduardo Campos da aliança de sustentação oficial poderá até ser antecipado para que não seja respingada essa situação ao seu nome, quando também antecipará a sucessão presidencial ainda mais, alimentando a dificuldade de alianças em torno de Dilma e patrocinando mais deserções na tão instável base aliada.
Por duas vezes Eduardo Campos aproveitou as dificuldades do PT para cacifar candidaturas do seu PSB: a eleição para governador de 2006 (quando ele próprio foi o candidato) e a eleição para a Prefeitura do Recife em 2012 (com a candidatura de Geraldo Júlio). Em 2006 o candidato do PT foi bombardeado pelo suposto envolvimento na chamada Máfia dos Vampiros. Em 2012 rompeu a aliança com o PT e elegeu seu candidato após as conturbadas prévias petistas.
Na terceira oportunidade que aparece no horizonte de Eduardo Campos para se ter o PT como a variável importante para a sua vitória mesmo que indiretamente, a situação atual lhe favorece. Quem aposta nele?


*É pesquisador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A preocupação do sistema é com a solidariedade que os protestos despertam (Por Otávio Luiz Machado)

A preocupação do sistema é com a solidariedade que os protestos despertam 
Otávio Luiz Machado*
        
O dia 17 de junho de 2013 marcou o Brasil não somente pelas cenas de parcelas significativas de cidadãos tomando as ruas reivindicando direitos e fazendo muito barulho. Mas pelo significado que tais protestos impingem ao cenário urbano complexo, na contraposição direta ao discurso oficial dos governantes e na mobilização de parcelas significativas de concidadãos que até então se encontravam apáticos, desprotegidos, desiludidos e calados.
         O que inicialmente focava no preço absurdo das passagens de onibus  ganhou novas reivindicações e pautas ampliadas, como a não-aprovação da PEC-37 (que limita o trabalho do Ministério Público), o não-uso de recursos federais para o financiamento da Copa, o aumento de verbas públicas para as áreas de educação e saúde, o fim da violência contra os movimentos sociais, para o direito de protestar sem violência, etc
         Em Recife, na Avenida Conde da Boa Vista e em outras vias, por exemplo, o que se viu foi um “esquenta” para o grande protesto marcado para o dia 20 de junho de 2013, dando assim um indicativo de que a solidariedade aos protestos em outros Estados se transforma em adesão para a construção de protestos locais em seu próprio território antenados com as reivindicações gerais que acontecem pelo Brasil afora. Várias cidades do exterior também tiveram protestos em apoio aos protestos no Brasil no mesmo dia.
         Do norte ao sul do País, com alcance praticamente à metade dos Estados da federação, o que se viu nas ruas foram legiões de cidadãos que ganharam as ruas e praças em protestos para tratar de temas que diretamente atingiam suas cidades ou o País como um todo, mas também para prestar solidariedade aos participantes de protestos da capital paulista, que sofreram uma das mais duras repressões (mesmo sob a vigência de um sistema democrático em grande avanço nos dias anteriores).
         O perigo para o sistema não está nas ruas fechadas, nos prédios públicos “atacados” e na imagem arranhada para muitas autoridades públicas. Está na solidariedade que tais protestos geram no conjunto da sociedade, o que impõe incertezas quanto ao grau de ruptura ou de estragos que podem trazer ao status quo com novas adesões e maior alcance dos protestos, sendo de difícil controle e sem possibilidades de previsão sobre quais estruturas solidificadas poderão ser abaladas ou derrubadas. Muito menos a quem se pode atingir em cheio primeiro, seja o sistema econômico, seja o sistema político, o sistema dos oligopólios internacionais ou os sistemas de comunicação de massa  controlados por uma minoria.
         Nos tempos controversos da Guerra Fria, o que mais afligia os cabeças dos países que orbitavam nos dois pólos era o perigo da chamada solidariedade mundial, o que exigia a mobilização de recursos financeiros infindáveis para quebrar qualquer possibilidade da construção dessa solidariedade universal entre os povos.
         Os protestos nos últimos tempos ganharam novos atores, diferentes estratégias de mobilização e de organização e construíram pautas e temas de multiplicidades, enquanto a repressão a eles não inovou em nada: é a mesma truculência, o mesmo discurso autoritário em defesa da força em detrimento ao diálogo e o mesmo engodo de que uma minoria impõe à maioria os seus desejos e intentos.
         O desgaste no sistema político é tão enorme, que cada medida tomada por seus representantes no sentido de se segurar ou de se equilibrar nesses momentos de tensão torna-se um combustível de qualidade superiormente inflamável.
         O sistema político pode aparentemente manter diferenças nas suas composições internas, mas quando a situação coloca em risco todo o seu sistema, o que se vê são alianças e acordos entre todos que são sua parte. No caso da democracia brasileira, PT, PMDB, PSDB, PSD, PSB, PC do B, etc., nessas horas falam a mesma língua, se posicionam com os instrumentos políticos em comum e costumam não compartilhar dos interesses maiores do País, porque a tendência é de proteção e de blindagem dos próprios interesses.  
O  desconforto não está nos alvos de insatisfação que  já estão indicados nos protestos, mas nos que podem ressurgir e demonstrar que o ponto de saturação  de parcelas significativas dos brasileiras finalmente aconteceu.   Por isso que os protestos já são vitoriosos, porque deixaram o sistema político sem saber o que fazer, ficando sem rumo e em compasso de espera.
O fato é que a repressão não segurou por muito tempo as mudanças das sociedades. O próximo caminho escolhido  é que vai dar o tom da vitória dos protestos, o ritmo da mudança, o atestado de que novas agendas serão abertas e guiadas pelo total poder dos cidadãos e cidadãs de nosso País.

*É pesquisador, escritor, educador e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

A preocupação do sistema é com a solidariedade que os protestos despertam (Por Otávio Luiz Machado)


A preocupação do sistema é com a solidariedade que os protestos despertam 
Otávio Luiz Machado*
        
O dia 17 de junho de 2013 marcou o Brasil não somente pelas cenas de parcelas significativas de cidadãos tomando as ruas reivindicando direitos e fazendo muito barulho. Mas pelo significado que tais protestos impingem ao cenário urbano complexo, na contraposição direta ao discurso oficial dos governantes e na mobilização de parcelas significativas de concidadãos que até então se encontravam apáticos, desprotegidos, desiludidos e calados.
         O que inicialmente focava no preço absurdo das passagens de onibus  ganhou novas reivindicações e pautas ampliadas, como a não-aprovação da PEC-37 (que limita o trabalho do Ministério Público), o não-uso de recursos federais para o financiamento da Copa, o aumento de verbas públicas para as áreas de educação e saúde, o fim da violência contra os movimentos sociais, para o direito de protestar sem violência, etc
         Em Recife, na Avenida Conde da Boa Vista e em outras vias, por exemplo, o que se viu foi um “esquenta” para o grande protesto marcado para o dia 20 de junho de 2013, dando assim um indicativo de que a solidariedade aos protestos em outros Estados se transforma em adesão para a construção de protestos locais em seu próprio território antenados com as reivindicações gerais que acontecem pelo Brasil afora. Várias cidades do exterior também tiveram protestos em apoio aos protestos no Brasil no mesmo dia.
         Do norte ao sul do País, com alcance praticamente à metade dos Estados da federação, o que se viu nas ruas foram legiões de cidadãos que ganharam as ruas e praças em protestos para tratar de temas que diretamente atingiam suas cidades ou o País como um todo, mas também para prestar solidariedade aos participantes de protestos da capital paulista, que sofreram uma das mais duras repressões (mesmo sob a vigência de um sistema democrático em grande avanço nos dias anteriores).
         O perigo para o sistema não está nas ruas fechadas, nos prédios públicos “atacados” e na imagem arranhada para muitas autoridades públicas. Está na solidariedade que tais protestos geram no conjunto da sociedade, o que impõe incertezas quanto ao grau de ruptura ou de estragos que podem trazer ao status quo com novas adesões e maior alcance dos protestos, sendo de difícil controle e sem possibilidades de previsão sobre quais estruturas solidificadas poderão ser abaladas ou derrubadas. Muito menos a quem se pode atingir em cheio primeiro, seja o sistema econômico, seja o sistema político, o sistema dos oligopólios internacionais ou os sistemas de comunicação de massa  controlados por uma minoria.
         Nos tempos controversos da Guerra Fria, o que mais afligia os cabeças dos países que orbitavam nos dois pólos era o perigo da chamada solidariedade mundial, o que exigia a mobilização de recursos financeiros infindáveis para quebrar qualquer possibilidade da construção dessa solidariedade universal entre os povos.
         Os protestos nos últimos tempos ganharam novos atores, diferentes estratégias de mobilização e de organização e construíram pautas e temas de multiplicidades, enquanto a repressão a eles não inovou em nada: é a mesma truculência, o mesmo discurso autoritário em defesa da força em detrimento ao diálogo e o mesmo engodo de que uma minoria impõe à maioria os seus desejos e intentos.
         O desgaste no sistema político é tão enorme, que cada medida tomada por seus representantes no sentido de se segurar ou de se equilibrar nesses momentos de tensão torna-se um combustível de qualidade superiormente inflamável.
         O sistema político pode aparentemente manter diferenças nas suas composições internas, mas quando a situação coloca em risco todo o seu sistema, o que se vê são alianças e acordos entre todos que são sua parte. No caso da democracia brasileira, PT, PMDB, PSDB, PSD, PSB, PC do B, etc., nessas horas falam a mesma língua, se posicionam com os instrumentos políticos em comum e costumam não compartilhar dos interesses maiores do País, porque a tendência é de proteção e de blindagem dos próprios interesses.  
O  desconforto não está nos alvos de insatisfação que  já estão indicados nos protestos, mas nos que podem ressurgir e demonstrar que o ponto de saturação  de parcelas significativas dos brasileiras finalmente aconteceu.   Por isso que os protestos já são vitoriosos, porque deixaram o sistema político sem saber o que fazer, ficando sem rumo e em compasso de espera.
O fato é que a repressão não segurou por muito tempo as mudanças das sociedades. O próximo caminho escolhido  é que vai dar o tom da vitória dos protestos, o ritmo da mudança, o atestado de que novas agendas serão abertas e guiadas pelo total poder dos cidadãos e cidadãs de nosso País.

*É pesquisador, escritor, educador e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br