quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O debate da TV Jornal e o desempenho dos candidatos a Prefeito de Recife (Por Otávio Luiz Machado)




O debate da TV Jornal e o desempenho dos candidatos a Prefeito de Recife
Otávio Luiz Machado*

            O debate da TV Jornal ontem (25 set. 2012) foi bastante repercutido no twitter e chegou a ficar no topo dos cinco assuntos mais comentados no Brasil. Teve também uma boa audiência pela TV e na própria internet.
            Um debate nessa fase da campanha é importante porque mostra o que cada candidato aprendeu ao visitar toda a cidade, ao ter oportunidade de contato direto com milhares de pessoas e ao poder obter uma visão panorâmica do que precisa ser mudado de fato na cidade, sem contar a sistematização de tudo isso no programa de governo ou na plataforma eleitoral.         
            No debate praticamente todos os candidatos repetiram seus bordões que estão divulgados por aí, inclusive podendo falar abertamente sem truques  tendo como questionadores seus adversários que lá estavam.
            Não foi um debate morno, porque o acirramento dos ânimos esteve presente do início ao final. Na primeira oportunidade que Humberto Costa teve para perguntar ao candidato Geraldo Júlio o assunto trazido foi a privatização da Compesa, que foi solenemente rebatida por ele.
            A organização do Debate errou feio ao conceder um minuto de direito de resposta só porque Humberto Costa disse que Geraldo Júlio era a favor dessa privatização. Na campanha o adversário pode sim levantar questões que consideram que serão efetivamente levadas pelos seus adversários, mas isso foi considerado uma calúnia ou ofensa, funcionando mais como censura do que qualquer outra coisa.
            O posicionamento de uma câmera entre os candidatos Mendonça Filho e Geraldo Júlio deixava que a imagem do próprio Mendonça ou até de Daniel Coelho quando eles estavam falando aparecessem lado a lado com a de Geraldo Júlio. Assim, Geraldo Júlio foi o que mais teve sua imagem exposta no vídeo, embora considere que isso mostrou um candidato tímido, que não sabia para onde ficava olhando e não raro o mostrava consultando diversos papéis como se estivesse decorando um roteiro de novela das oito.
            É óbvio que o tema que tomou grande parte do programa foi o da privatização da Compesa, mas também teve espaço para a saúde, a segurança pública, a experiência política dos candidatos, a educação e outros mais.
            Não houve nenhum grande embate entre Mendonça Filho com os demais candidatos, mas sim entre Humberto Costa e Geraldo Júlio e entre Daniel Coelho e Geraldo Júlio. Geraldo tentou pegar Daniel sobre a sua possível falta de proposta para os problemas das encostas nos morros, porque Daniel focou na questão da educação ambiental. Aí Geraldo disse que ele fugia das questões e ficava enrolando. Daniel respondeu que sua resposta era conceitual, eis a diferença entre um técnico e uma liderança.No caso de Humberto e Geraldo, o clima ficou estremecido quando o assunto foi a privatização da Compesa, sem contar o assunto da candidatura do PT.
            Humberto apostou e acertou quando “colou” João da Costa ao PSB, inclusive o colocando como militante da candidatura de Geraldo Júlio. Também ilustrou que o vice-prefeito e diversos secretários ligados ao PSB também tinham responsabilidade na gestão de João da Costa, o que é verdade.
            Mas o campeão de agressões aos adversários foi Geraldo Júlio, o que é contraditório. Num dos momentos de sua fala começou a acreditar a cada um dos adversários com qualidades negativas. Nisso permitiu que ele também fosse o candidato campeão de erros, porque um triplo direito de resposta foi concedido a desfavor de Geraldo Júlio. Daniel disse na hora de usufruir do seu direito de resposta em relação a Geraldo: “foi o único que conseguiu agredir os três ao mesmo tempo”. Humberto ressaltou que foi ele que defendeu o governo Eduardo Campos das agressões do agora aliado Jarbas Vasconcelos. Ilustrou que defendeu Arraes e Eduardo à época dos precatórios, quando Jarbas os fuzilava verbalmente a qualquer hora do dia e da noite.
            Mendonça Filho ressaltou sua experiência como governador, falou das parcerias que fez com a Prefeitura e colocou-se como o candidato que saberá de fato tirar a cidade da situação atual se comparado com os demais.
            Geraldo também foi o candidato do “medo”. Disse que a crise do PSB com o PT poderia afundar e “levar o governo de Pernambuco junto”. Não raras tais declarações foram dadas com muita arrogância, o que levou o candidato Humberto Costa a definir que para uma liderança era fundamental o respeito e a humildade.
            Humberto Costa foi o único a passar ao mesmo tempo suas idéias para Recife e as questões atuais que estão no foco da disputa eleitoral. Falou que o PT está crescendo no País, que seu partido mudou a vida de muita gente e explicou que foi preciso uma medida no PT de Recife para mudar o comando para manter a mesma política. Humberto Costa e João Paulo são para mim os melhores  candidatos e merece de fato ser eleitos para a Prefeitura do Recife.
            Uma possível vitória de Geraldo Júlio significa a concentração de todo o poder do Estado na órbita do governador Eduardo Campos, cujo governo tem lançado mão de todo tipo de estratégia para reprimir os movimentos sociais e os que não concordam com seu governo. Também indica que o “Geraldo Proíbe” vai ganhar contornos mais precisos diante do seu modo de ser e agir na campanha. Como Prefeito ...
Por incrível que pareça, o único candidato que não passou confiança para quem assistiu foi Geraldo Júlio. Sua arrogância só demonstra que vem da falta de confiança e do desconhecimento dos desafios de uma prefeitura como é o caso da cidade de Recife. A prepotência de quem se sente o melhor do mundo, a judicialização da campanha eleitoral quando pretende proibir a qualquer um a levantar questões e dúvidas sobre suas idéias e atos, o despreparo em dialogar com o diferente e a sua sustentação como candidato a um simples esquema de marketeiros nos deixam perguntando como seria uma prefeitura sob sua coordenação. Geraldo Júlio foi o único candidato que demonstrou no debate da TV Jornal que não aprendeu nada nesses meses de campanha. Até agredir o pai do candidato Daniel Coelho ele foi capaz. Isso não foi só indelicaleza, não, mas a apresentação de traços autoritários incontornáveis. Geraldo também  parece muito com o Prefeito João da Costa no item de candidato inventado, que está aí como o pior exemplo para todos, também tem o próprio apoio dele nessas eleições. Repetir o mesmo erro é burrice.
           
*É educador, pesquisador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

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