Todos lado a lado com um candidato em Recife: ou por qual
motivo os opostos se atraem?
Otávio Luiz Machado*
As eleições em
2012 em Recife vão ficar para a história como aquela em que a expressão “os
opostos se atraem” foi levado ao extremo. Mas o motivo dessa “paixão”
inesperada entre membros do PMDB com os do PSB,
PC do B e outras siglas de Pernambuco nem Freud explica, porque a
Política se transformou num objetivo de obtenção do poder puro e simplesmente
para atender objetivos práticos e individuais, sem contar que os palanques já
estão sendo construídos para 2014.
A partir de agora tudo se resume a isso custe o que
custar.
Os
jovens que estão hoje com 22 anos, vivenciaram em toda a sua existência a rivalidade política e pessoal entre o
governador Eduardo Campos e o agora senador Jarbas Vasconcelos. O governador
cita à exaustão de que é preciso abandonar a velha política do século passado,
mas não se completou 2 anos da rivalidade deles em 2010 alimentada radicalmente
pelos os dois sem cerimônia, mas agora tentam passar a imagem de que são amigos
de longa data. O governador não estimulou a paz política, mas a unanimidade
política em torno de si até o momento.
Um
parente do Governador Eduardo Campos, Flávio Campos, que foi às ruas em 2005
contra o então governador Jarbas Vasconcelos e foi juntamente com tantos outros
jovens naquele momento barbaramente reprimidos, agora divide o mesmo palanque
com o ex-governador Jarbas apagando aquela história de enfrentamento e
distanciamento que agora estamos vendo nas eleições.
No
caso do vice de Geraldo Júlio, o Luciano Siqueira, também mal se passou 5 anos
do vídeo histórico atacando Jarbas Vasconcelos, agora são aliados de primeira
ordem.
Outro que também não combinava
com Jarbas Vasconcelos, o agora deputado federal Silvio Costa, também divide o
mesmo palanque.
Também
temos o Governador Eduardo Campos pedindo votos para o então candidato a
Prefeito na última eleição João da Costa, que agora aparece na candidatura do
candidato do governador numa alusão de que não é uma pessoa séria e nem
trabalhadora.
Mas
essa incoerência não é típica de Pernambuco, porque nacionalmente temos casos
tão descarados, como é a aliança do PT com Paulo Maluf em São Paulo.
Em 2012
chegamos ao ápice da degradação dos partidos políticos, onde o tomar parte que
deveria ser a bússola para eles, é a partilha do poder em fatias para agradar
aos convivas que prevalece. É a insignificância da Política, é um novo tempo
para alianças que agradam a grupos políticos-partidários e não visam o
INTERESSE PÚBLICO
Mas
nesse quadro sombrio também temos pela primeira vez a Lei da Ficha Limpa abortando a candidatura de nomes que já se
mostraram inaptos para a administração pública, sem contar até o momento a
atitude republicana do Superior Tribunal Superior (STF) em condenar os que se
envolveram no esquema de corrupção conhecido como “Mensalão”, que começou na
eleição do Presidente Lula em 2002 e pulou para o seu governo em 2003, mas que
foi definitivamente publicizado a partir de 2005.
Então
essa conversa fiada de algumas candidaturas que já avisam que o que vem aí é
melhor merece o maior cuidado, porque no rosto novo do candidato esconde a real
face de sua candidatura, que é a junção do que existe de pior na política
brasileira para tomar de novo o poder e continuar usando a população em seu
benefício.
Outro
discurso repugnante é a eficiência total do Governo Eduardo Campos. A Funase (mais conhecida como
campo de concentração para adolescentes em conflito com a lei em Pernambuco), o
sistema de transporte público
de Recife (que as más línguas dizem que a maior parte da frota pertence a um
conhecido político do Estado e é função do governo estadual licitar as empresas
que estarão prestando serviços à população), as mini-cracolândias espalhadas pela cidade, a violência nas escolas, o sistema prisional falido, a saúde pública precária, os baixos salários dos professores,
dos policiais, dos agentes de saúde e várias outras categorias, o sistema habitacional público
ineficiente, a segurança pública com
enormes falhas (falta de policiamento nos principais pontos da cidade,
assaltos a qualquer horário, tráfico de
drogas em ascensão e tantos outros aspectos)
e sem contar a política de
tolerância zero com os protestos públicos, o que afeta a cidadania (o
direito de ter direitos e de acioná-los) e a diversidade de opiniões ao incitar
a população a tratar o governante com unanimidade, o que resume na entrada de
um terreno perigoso para o autoritarismo. É óbvio que existe muita coisa boa no
governo Eduardo Campos e precisa ser mostrado como forma de prestação de contas
à sociedade, mas não é uma maravilha total como está aí colocada.
Qual
seja o lado de que estamos apoiando nessas eleições, também precisamos ficar
atentos que coerência política, a probidade administrativa, a gestão eficiente,
a sensibilidade social e a visão de futuro são valores ou práticas que
precisamos colocar como fundamentais quando fomos analisar um projeto político
em qualquer eleição. É o mínimo ou o básico para que a escolha seja não apenas
criteriosa, mas aquela com mais condições de não errarmos.
*É educador, pesquisador,
escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br
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