segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Todos lado a lado com um candidato em Recife: ou por qual motivo os opostos se atraem? (Por Otávio Luiz Machado)

Todos lado a lado com um candidato em Recife: ou por qual motivo os opostos se atraem?
Otávio Luiz Machado*

As eleições em 2012 em Recife vão ficar para a história como aquela em que a expressão “os opostos se atraem” foi levado ao extremo. Mas o motivo dessa “paixão” inesperada entre membros do PMDB com os do PSB,  PC do B e outras siglas de Pernambuco nem Freud explica, porque a Política se transformou num objetivo de obtenção do poder puro e simplesmente para atender objetivos práticos e individuais, sem contar que os palanques já estão sendo construídos para 2014. A partir de agora tudo se resume a isso custe o que custar.
            Os jovens que estão hoje com 22 anos, vivenciaram em toda a sua existência  a rivalidade política e pessoal entre o governador Eduardo Campos e o agora senador Jarbas Vasconcelos. O governador cita à exaustão de que é preciso abandonar a velha política do século passado, mas não se completou 2 anos da rivalidade deles em 2010 alimentada radicalmente pelos os dois sem cerimônia, mas agora tentam passar a imagem de que são amigos de longa data. O governador não estimulou a paz política, mas a unanimidade política em torno de si até o momento.  



            Um parente do Governador Eduardo Campos, Flávio Campos, que foi às ruas em 2005 contra o então governador Jarbas Vasconcelos e foi juntamente com tantos outros jovens naquele momento barbaramente reprimidos, agora divide o mesmo palanque com o ex-governador Jarbas apagando aquela história de enfrentamento e distanciamento que agora estamos vendo nas eleições.



            No caso do vice de Geraldo Júlio, o Luciano Siqueira, também mal se passou 5 anos do vídeo histórico atacando Jarbas Vasconcelos, agora são aliados de primeira ordem.



Outro que também não combinava com Jarbas Vasconcelos, o agora deputado federal Silvio Costa, também divide o mesmo palanque.



            Também temos o Governador Eduardo Campos pedindo votos para o então candidato a Prefeito na última eleição João da Costa, que agora aparece na candidatura do candidato do governador numa alusão de que não é uma pessoa séria e nem trabalhadora.



            Mas essa incoerência não é típica de Pernambuco, porque nacionalmente temos casos tão descarados, como é a aliança do PT com Paulo Maluf em São Paulo.



            No caso mais específico de Pernambuco, o que se vê é Lula fazer pouco caso  aos técnicos que se candidatam (numa crítica direta ao candidato Geraldo Júlio) no vídeo que fez em apoio ao candidato Humberto Costa, mas em 2010 utilizar o mesmo discurso valorizando um técnico na gestão, nesse caso a Presidenta Dilma.



Em 2012 chegamos ao ápice da degradação dos partidos políticos, onde o tomar parte que deveria ser a bússola para eles, é a partilha do poder em fatias para agradar aos convivas que prevalece. É a insignificância da Política, é um novo tempo para alianças que agradam a grupos políticos-partidários e não visam o INTERESSE PÚBLICO
            Mas nesse quadro sombrio também temos pela primeira vez a Lei da Ficha Limpa  abortando a candidatura de nomes que já se mostraram inaptos para a administração pública, sem contar até o momento a atitude republicana do Superior Tribunal Superior (STF) em condenar os que se envolveram no esquema de corrupção conhecido como “Mensalão”, que começou na eleição do Presidente Lula em 2002 e pulou para o seu governo em 2003, mas que foi definitivamente publicizado a partir de 2005.
            Então essa conversa fiada de algumas candidaturas que já avisam que o que vem aí é melhor merece o maior cuidado, porque no rosto novo do candidato esconde a real face de sua candidatura, que é a junção do que existe de pior na política brasileira para tomar de novo o poder e continuar usando a população em seu benefício.
            Outro discurso repugnante é a eficiência total do Governo Eduardo Campos. A Funase (mais conhecida como campo de concentração para adolescentes em conflito com a lei em Pernambuco), o sistema de transporte público de Recife (que as más línguas dizem que a maior parte da frota pertence a um conhecido político do Estado e é função do governo estadual licitar as empresas que estarão prestando serviços à população), as mini-cracolândias espalhadas pela cidade, a violência nas escolas, o sistema prisional falido, a saúde pública precária, os baixos salários dos professores, dos policiais, dos agentes de saúde e várias outras categorias, o sistema habitacional público ineficiente, a segurança pública com enormes falhas (falta de policiamento nos principais pontos da cidade, assaltos a qualquer horário,  tráfico de drogas em ascensão e tantos outros aspectos)  e sem contar a política de tolerância zero com os protestos públicos, o que afeta a cidadania (o direito de ter direitos e de acioná-los) e a diversidade de opiniões ao incitar a população a tratar o governante com unanimidade, o que resume na entrada de um terreno perigoso para o autoritarismo. É óbvio que existe muita coisa boa no governo Eduardo Campos e precisa ser mostrado como forma de prestação de contas à sociedade, mas não é uma maravilha total como está aí colocada.  
            Qual seja o lado de que estamos apoiando nessas eleições, também precisamos ficar atentos que coerência política, a probidade administrativa, a gestão eficiente, a sensibilidade social e a visão de futuro são valores ou práticas que precisamos colocar como fundamentais quando fomos analisar um projeto político em qualquer eleição. É o mínimo ou o básico para que a escolha seja não apenas criteriosa, mas aquela com mais condições de não errarmos.

*É educador, pesquisador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

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