Homenagem ao Professor Denis Bernardes na Editora
Universitária da UFPE
Por Otávio Luiz Machado*
Como já disse nos demais
textos escritos, a separação em vários textos do que escrevo sobre o evento
ocorrido na tarde do dia 23 de novembro de 2012 na Editora Universitária da UFPE foi necessária
para não fazer um único e grandioso texto, que indubitavelmente seria cansativo
para os leitores. Os demais podem ser consultados aqui:
Aqui tratarei mais
especificamente da homenagem feita a Denis Bernardes, que praticamente
percorreu todo o evento do dia, horário
e local já especificado acima.
Desde o falecimento de Denis
Bernardes, inclusive no velório no prédio da reitoria da UFPE, as homenagens
não cessam, tendo já agendado para o mês de dezembro próximo no centro do qual
ele se dedicou boa parte de sua vida na UFPE – o CCSA -, quando o auditório
daquela unidade passará a ter o seu nome.
O evento da Editora
Universitária também é muito especial, porque por ali passaram autores
indicados por ele para ser publicados, muitas referências a seu nome e sua obra
na produção acadêmica publicada por vários autores e suas próprias obras, sejam
estudos próprios, sejam estudos coletivos.
A revista Estudos
Universitários estava sendo até o seu falecimento a principal publicação da
qual era o editor que passou a ter maior intensidade naquele ambiente.
Não foi ali uma homenagem
“apenas” da lavra da editora e que
ressaltava sua contribuição a ela, o que
não seria pouco, mas da própria universidade
e de seus amigos e amigas.
A Professora Emília Maria M.
de Morais falou mais na condição de amiga, tentando trazer traços da biografia
de Denis Bernardes que só os que
conviveram com ele pode de fato
entender, porque era algo muito particular da personalidade dele.
O texto conciso e fiel à
história de Denis lido na ocasião e que foi felizmente publicado a tempo no
número comemorativo aos 50 anos da Revista Estudos Universitários faz correções a tantos dados que acabam sendo
divulgados sobre a trajetória acadêmica de Denis na UFPE, o que é um ganho a
mais. Fica aí a dica para que as pessoas tenham acesso ao volume 29, número 10,
de outubro de 2012. Lá vão ter a melhor noção da biobibliografia de Denis
Bernardes e demais textos.
A Professora Socorro Abreu,
que também foi amiga do Professor Denis, relembrou que por volta de um ano e
meio atrás (no primeiro semestre de 2011) ele dizia para ela: “Esse ano foi
difícil e o ano que vem vamos estar juntos”.
Só demonstra o quanto ele
queria continuar com esse esforço coletivo da revista Estudos Universitários,
que mesmo após o seu falecimento dois outros números que ainda vão ser
publicados ficaram prontos com sua participação.
Socorro Abreu conheceu Denis
Bernardes na juventude, pois ambos foram da Ação Popular, sendo mais
recentemente uma parceira dele no resgate da história dos movimentos
sociais. Falou da luta de Denis com os
professores pela melhoria da universidade pública, mas também sua luta em favor
dos oprimidos para “trazer todos aqueles sujeitos da classe trabalhadora” para
que se sentissem valorizadas ao atuarem
coletivamente.
O trabalho de Denis é o
reconhecimento de um trabalho em equipe em prol da memória, pois para ela para
que o passado não permaneça só nas lembranças mas nos nossos documentos muitos
tiveram que realizar um trabalho desse sentido.
Ao recolher algo que
possibilita e dê elementos para reconstruir essa história da luta do povo
brasileiro, disse Socorro Abreu, o trabalho de Denis garimpando documentos e
orientando estudantes fez a diferença e deixou grande contribuição.
Também pontuou a necessidade
de atenção para um dos trabalhos que Denis se voltou, a extensão universitária,
conclamando que é preciso “assumir a luta para que essa universidade não perca
de vista a questão da extensão”.
O Vice-Reitor, Professor
Silvio Romero Marques, que salientou que a homenagem como essa a Denis
Bernardes se “confunde emoção com o compromisso institucional”, também falou da
sua época de estudante, que inclusive
participou do momento de ocupação da Reitoria da UFPE nos anos 1960 durante a
gestão do reitor Murilo Guimarães, que praticamente ficou sem ter condições de
sair daquele recinto diante do cerco estudantil.
Silvio Marques relembrou o
episódio dizendo que quem era o responsável pela “vigilância” da entrada da
reitoria era ele que, como estudante engajado naquele momento poderia inclusive
barrar a entrada de refeições que iriam matar a fome do Reitor “cercado”. Foi
ele quem “autorizou” a entrada do advogado Paulo Cavalcanti com as refeições, o
que poderia ter sido diferente.
Com essa reflexão, o
magnífico vice-reitor disse que dentro da universidade deveria haver a reflexão
sobre o que aconteceu com a revista Estudos Universitários ao longo dos seus 50
anos, principalmente evocando a diversidade de ideias que existe dentro da
universidade.
Ao dizer que “todo aquele
que pensa precisa ter seguidores”, seja no sentido “para ser transmitido e
reproduzido”, o vice-reitor refletiu que “a revista continuará além do tempo”, pois
ela é um veículo de produção e reprodução das ideias produzidas pela UFPE.
O reitor Anísio Brasileiro
retoma novamente a palavra, que desta vez foi durante a parte de homenagem ao
grande Denis Bernardes. Obviamente que na oportunidade não deixou de falar da
sua atual gestão, o que é natural nas falas de reitores nos mais diversos
eventos.
Começou a falar baseando no Amyte Sam sobre as
“instituições justas”, para dizer que o assunto do novo estatuto e sua
construção passa ser uma prioridade da UFPE, pois terá elementos inclusive para
tratar com mais justiça a situação dos estudantes da instituição que vez ou
outra se esbarram em “práticas de autoritarismo”, sendo o novo estatuto um
mecanismo para “que a instituição tenha procedimento justo”.
Anísio
Brasileiro foi além na sua reflexão, ao dizer que o novo estatuto e as novas
práticas vão poder permitir “às pessoas serem capazes de se indignar diante de
toda forma de coerção”.
Anísio
fez essas ponderações até chegar ao assunto da revista para dizer que a revista
Estudos Universitários traz as marcas do tempo da universidade, “pois a revista
expressa este estado de ânimo” e que é preciso ser “fiéis aos nossos princípios
e a nossa história”.
Ao
evocar o reitor Murilo Guimarães na defesa dos estudantes vi um pouco de
precipitação na sua análise, mas sua fala deu para entender o seu ideário de
universidade. Ele falou em seguida das cotas que vão permitir atingir 1200
alunos no próximo vestibular, que para ele atos assim representam a “defesa da
democracia e em prol dos direitos humanos”.
Um relato
sobre sua relação com Denis Bernardes tomou um bom espaço da sua fala, que
começou afirmando que “nos últimos trinta anos como gestor não fiz nada sem
consultar antes o Denis”.
Também falou da relação de
Denis Bernardes com os estudantes, que mesmo fazendo tudo que fazia ainda
sobrava tempo para receber, conversar e ajudar muitos estudantes.
Anísio falou algo que eu já
sabia, mas que só os que conviviam com ele tinha noção: ele ia toda semana
à Faculdade de Direito para ajudar na
recuperação do acervo daquela instituição, incluindo um trabalho sobre a
documentação estudantil em revistas, do qual ele orientou vários estudantes e
pesquisas nesse sentido.
Não
deixou passar batido que as conversas com Denis representava uma verdadeira
aula. Como Denis não dirigia e pegava ônibus, falou das vezes que deu carona a
ele na Avenida 17 de agosto, quando passava todo o trajeto puxando questões
para Denis refletir com ele.
Anísio
lembrou a última vez que Denis Bernardes apareceu publicamente, quando foi
paraninfo de uma turma de Serviço Social.
Foi citado uma conversa que
teve com Denis no 15º andar do CFCH, quando na ocasião Denis começou a mostrar
vários pontos do campus da UFPE e começou a discorrer sobre sua história, pois
como disse Anísio, “ele sabia de toda a estrutura do campus”. Quando falou do
CFCH alguém perguntou se os elevadores do centro – que até hoje continuam com
sérios problemas – estavam funcionando quando ocorreu isso, e ele respondeu que
sim.
Ao final falou do
envolvimento de Denis Bernardes nas últimas três eleições para Reitor da UFPE,
inclusive na comissão eleitoral, perguntando por qual motivo ele se envolveu,
com a seguinte resposta: “Ele tinha a compreensão da importância de uma
eleição, porque ali estava sendo tratado do futuro da universidade”. Disse, por
exemplo, que desse posicionamento poderia sair
o resultado de uma universidade mais democrática ou menos democrática.
O encerramento da sessão foi
logo em seguida, com a sessão de autógrafos do livro de Dimas Brasileiro e a
distribuição do novo número da Revista Estudos Universitários da UFPE, cuja
ocasião também foi propícia para as conversas e o contato das pessoas, que é
algo tão fundamental na vida universitário e que o homenageado Denis Bernardes
era um daqueles que não deixava de participar de atos como esse e de ficar
papeando ao final. Um momento que não mais será possível contar com sua
agradável conversa, só com o seu inestimável exemplo de pessoa humana e de
acadêmico!
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