segunda-feira, 26 de novembro de 2012

OPINIÃO: Homenagem ao Professor Denis Bernardes na Editora Universitária da UFPE (Por Otávio Luiz Machado)

Homenagem ao Professor Denis Bernardes na Editora Universitária da UFPE
Por Otávio Luiz Machado*

Como já disse nos demais textos escritos, a separação em vários textos do que escrevo sobre o evento ocorrido na tarde do dia 23 de novembro de 2012  na Editora Universitária da UFPE foi necessária para não fazer um único e grandioso texto, que indubitavelmente seria cansativo para os leitores. Os demais podem ser consultados aqui:





Aqui tratarei mais especificamente da homenagem feita a Denis Bernardes, que praticamente percorreu todo o evento do dia,  horário e local já especificado acima.
Desde o falecimento de Denis Bernardes, inclusive no velório no prédio da reitoria da UFPE, as homenagens não cessam, tendo já agendado para o mês de dezembro próximo no centro do qual ele se dedicou boa parte de sua vida na UFPE – o CCSA -, quando o auditório daquela unidade passará a ter o seu nome.
O evento da Editora Universitária também é muito especial, porque por ali passaram autores indicados por ele para ser publicados, muitas referências a seu nome e sua obra na produção acadêmica publicada por vários autores e suas próprias obras, sejam estudos próprios, sejam estudos coletivos.
A revista Estudos Universitários estava sendo até o seu falecimento a principal publicação da qual era o editor que passou a ter maior intensidade naquele ambiente.
Não foi ali uma homenagem “apenas”  da lavra da editora e que ressaltava sua contribuição a ela,  o que não seria pouco,  mas da própria universidade e de seus amigos e amigas.
A Professora Emília Maria M. de Morais falou mais na condição de amiga, tentando trazer traços da biografia de Denis Bernardes que  só os que conviveram com ele  pode de fato entender, porque era algo muito particular da personalidade dele.
O texto conciso e fiel à história de Denis lido na ocasião e que foi felizmente publicado a tempo no número comemorativo aos 50 anos da Revista Estudos Universitários  faz correções a tantos dados que acabam sendo divulgados sobre a trajetória acadêmica de Denis na UFPE, o que é um ganho a mais. Fica aí a dica para que as pessoas tenham acesso ao volume 29, número 10, de outubro de 2012. Lá vão ter a melhor noção da biobibliografia de Denis Bernardes e demais textos.
A Professora Socorro Abreu, que também foi amiga do Professor Denis, relembrou que por volta de um ano e meio atrás (no primeiro semestre de 2011) ele dizia para ela: “Esse ano foi difícil e o ano que vem vamos estar juntos”.
Só demonstra o quanto ele queria continuar com esse esforço coletivo da revista Estudos Universitários, que mesmo após o seu falecimento dois outros números que ainda vão ser publicados ficaram prontos com sua participação.
Socorro Abreu conheceu Denis Bernardes na juventude, pois ambos foram da Ação Popular, sendo mais recentemente uma parceira dele no resgate da história dos movimentos sociais.  Falou da luta de Denis com os professores pela melhoria da universidade pública, mas também sua luta em favor dos oprimidos para “trazer todos aqueles sujeitos da classe trabalhadora” para que se  sentissem valorizadas ao atuarem coletivamente.
O trabalho de Denis é o reconhecimento de um trabalho em equipe em prol da memória, pois para ela para que o passado não permaneça só nas lembranças mas nos nossos documentos muitos tiveram que realizar um trabalho desse sentido.
Ao recolher algo que possibilita e dê elementos para reconstruir essa história da luta do povo brasileiro, disse Socorro Abreu, o trabalho de Denis garimpando documentos e orientando estudantes fez a diferença e deixou grande contribuição.
Também pontuou a necessidade de atenção para um dos trabalhos que Denis se voltou, a extensão universitária, conclamando que é preciso “assumir a luta para que essa universidade não perca de vista a questão da extensão”.
O Vice-Reitor, Professor Silvio Romero Marques, que salientou que a homenagem como essa a Denis Bernardes se “confunde emoção com o compromisso institucional”, também falou da sua época  de estudante, que inclusive participou do momento de ocupação da Reitoria da UFPE nos anos 1960 durante a gestão do reitor Murilo Guimarães, que praticamente ficou sem ter condições de sair daquele recinto diante do cerco estudantil.
Silvio Marques relembrou o episódio dizendo que quem era o responsável pela “vigilância” da entrada da reitoria era ele que, como estudante engajado naquele momento poderia inclusive barrar a entrada de refeições que iriam matar a fome do Reitor “cercado”. Foi ele quem “autorizou” a entrada do advogado Paulo Cavalcanti com as refeições, o que poderia ter sido diferente.
Com essa reflexão, o magnífico vice-reitor disse que dentro da universidade deveria haver a reflexão sobre o que aconteceu com a revista Estudos Universitários ao longo dos seus 50 anos, principalmente evocando a diversidade de ideias que existe dentro da universidade.
Ao dizer que “todo aquele que pensa precisa ter seguidores”, seja no sentido “para ser transmitido e reproduzido”, o vice-reitor refletiu que “a revista continuará além do tempo”, pois ela é um veículo de produção e reprodução das ideias produzidas pela UFPE.
O reitor Anísio Brasileiro retoma novamente a palavra, que desta vez foi durante a parte de homenagem ao grande Denis Bernardes. Obviamente que na oportunidade não deixou de falar da sua atual gestão, o que é natural nas falas de reitores nos mais diversos eventos.
Começou a falar baseando no Amyte Sam sobre as “instituições justas”, para dizer que o assunto do novo estatuto e sua construção passa ser uma prioridade da UFPE, pois terá elementos inclusive para tratar com mais justiça a situação dos estudantes da instituição que vez ou outra se esbarram em “práticas de autoritarismo”, sendo o novo estatuto um mecanismo para “que a instituição tenha procedimento justo”.
         Anísio Brasileiro foi além na sua reflexão, ao dizer que o novo estatuto e as novas práticas vão poder permitir “às pessoas serem capazes de se indignar diante de toda forma de coerção”.
         Anísio fez essas ponderações até chegar ao assunto da revista para dizer que a revista Estudos Universitários traz as marcas do tempo da universidade, “pois a revista expressa este estado de ânimo” e que é preciso ser “fiéis aos nossos princípios e a nossa história”.
         Ao evocar o reitor Murilo Guimarães na defesa dos estudantes vi um pouco de precipitação na sua análise, mas sua fala deu para entender o seu ideário de universidade. Ele falou em seguida das cotas que vão permitir atingir 1200 alunos no próximo vestibular, que para ele atos assim representam a “defesa da democracia e em prol dos direitos humanos”.
         Um relato sobre sua relação com Denis Bernardes tomou um bom espaço da sua fala, que começou afirmando que “nos últimos trinta anos como gestor não fiz nada sem consultar antes o Denis”.
Também falou da relação de Denis Bernardes com os estudantes, que mesmo fazendo tudo que fazia ainda sobrava tempo para receber, conversar e ajudar muitos estudantes.
Anísio falou algo que eu já sabia, mas que só os que conviviam com ele tinha noção: ele ia toda semana à  Faculdade de Direito para ajudar na recuperação do acervo daquela instituição, incluindo um trabalho sobre a documentação estudantil em revistas, do qual ele orientou vários estudantes e pesquisas nesse sentido.
         Não deixou passar batido que as conversas com Denis representava uma verdadeira aula. Como Denis não dirigia e pegava ônibus, falou das vezes que deu carona a ele na Avenida 17 de agosto, quando passava todo o trajeto puxando questões para Denis refletir com ele.
         Anísio lembrou a última vez que Denis Bernardes apareceu publicamente, quando foi paraninfo de uma turma de Serviço Social.
Foi citado uma conversa que teve com Denis no 15º andar do CFCH, quando na ocasião Denis começou a mostrar vários pontos do campus da UFPE e começou a discorrer sobre sua história, pois como disse Anísio, “ele sabia de toda a estrutura do campus”. Quando falou do CFCH alguém perguntou se os elevadores do centro – que até hoje continuam com sérios problemas – estavam funcionando quando ocorreu isso, e ele respondeu que sim.
Ao final falou do envolvimento de Denis Bernardes nas últimas três eleições para Reitor da UFPE, inclusive na comissão eleitoral, perguntando por qual motivo ele se envolveu, com a seguinte resposta: “Ele tinha a compreensão da importância de uma eleição, porque ali estava sendo tratado do futuro da universidade”. Disse, por exemplo, que desse posicionamento poderia sair  o resultado de uma universidade mais democrática ou menos democrática.
O encerramento da sessão foi logo em seguida, com a sessão de autógrafos do livro de Dimas Brasileiro e a distribuição do novo número da Revista Estudos Universitários da UFPE, cuja ocasião também foi propícia para as conversas e o contato das pessoas, que é algo tão fundamental na vida universitário e que o homenageado Denis Bernardes era um daqueles que não deixava de participar de atos como esse e de ficar papeando ao final. Um momento que não mais será possível contar com sua agradável conversa, só com o seu inestimável exemplo de pessoa humana e de acadêmico!

*É educador, pesquisador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahpp.com.br


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