UMA GESTÃO DO DCE PARA CHAMAR DE SUA:
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAAMBUCO (UNICAP), NOVEMBRO DE 2012 – OU OS NOVOS
CIRCUITOS JUVENIS EM RECIFE
Por Otávio Luiz Machado*
Quem
esteve na posse do DCE da UNICAP (para a gestão 2012-2013) presenciou um ato
simples do ponto de vista de não trazer a pompa da utilização de um aparato de
cerimonial que mais serve para impressionar através de detalhes requintados do
que para marcar acadêmica e politicamente uma atividade que se inicia em prol
do conjunto dos estudantes.
Embora
o DCE que falamos seja o da UNICAP, é fundamental dizer que os mais diversos movimentos que
compõem a nova gestão representam um conjunto de movimentos juvenis da cidade
de Recife, porque ali estão nomes que participam de coletivos contra o aumento
das passagens, contra o machismo e a homofobia, a favor dos
moradores das comunidades periféricas que sofreram injustiças etc., sem contar
o respaldo que tiveram na sua atuação em vários protestos públicos em 2012,
quando puderam contracenar, se organizar e articular com os demais movimentos
estudantis das mais diversas universidades, em especial da UFRPE e da UFPE.
A posse
dessas pessoas do DCE da UNICAP foi num auditório que mais lembra uma sala de
aula, sem apelos, exageros ou grandes
formalidades, onde todos puderam se sentir a vontade para chegar perto de quem
queria, o que mais uma vez aponta que a gestão será de estudantes para
estudantes conforme a proposta de campanha, que os membros da entidade poderão
continuar ser localizadas para dar satisfação do seu trabalho e que
legitimamente a UNICAP tem uma entidade única para defender em conjunto a
demanda das demais entidades da instituição. Sinaliza que cada estudante ou cada
setor de professores ou funcionários que queiram ter o apoio dos estudantes nas
horas que precisar poderão convocar o DCE sem alarde, pois ele existe, é
unificado e tem muitos desafios pela frente.
Na hora
que o DCE da UNICAP tomava posse, coincidentemente os estudantes da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) ocupavam naquele momento a reitoria
da instituição por não aceitar que a reitora indicada naquela outra instituição
assumisse, considerando que nas eleições da comunidade universitária ela tinha
ficado em último lugar, sendo indicada mesmo assim para o cargo em detrimento
da vontade da comunidade.
Em várias partes do mundo a "indignação" toma conta, com grandes mobilizações compostas por muitas juventudes, que tomam o espaço público para que sua voz e seus gestos façam toda a diferença. A semana foi marcada por vários protestos públicos, principalmente na Europa. As imagens de milhares pessoas que sequer se conhecem reunidas nos mais diversos pontos com várias palavras de ordem é um fenômeno social que precisamos ter mais instrumentais teóricos para analisar, porque o desafio de compreender a multiplicidade de bandeiras e de agrupamentos reunidos é enorme. A apatia política é deixada de lado mesmo numa luta de propostas não totalmente definidas e sem sistematicidade, sem lideranças assumidas ou escolhidas ou diálogo a quem que seja no comando dos governos. Só aparece ali para "receber" os manifestantes a força policial, numa desmedida repressão.
Em várias partes do mundo a "indignação" toma conta, com grandes mobilizações compostas por muitas juventudes, que tomam o espaço público para que sua voz e seus gestos façam toda a diferença. A semana foi marcada por vários protestos públicos, principalmente na Europa. As imagens de milhares pessoas que sequer se conhecem reunidas nos mais diversos pontos com várias palavras de ordem é um fenômeno social que precisamos ter mais instrumentais teóricos para analisar, porque o desafio de compreender a multiplicidade de bandeiras e de agrupamentos reunidos é enorme. A apatia política é deixada de lado mesmo numa luta de propostas não totalmente definidas e sem sistematicidade, sem lideranças assumidas ou escolhidas ou diálogo a quem que seja no comando dos governos. Só aparece ali para "receber" os manifestantes a força policial, numa desmedida repressão.
Como “essas
coincidências nunca são fortuitas”, buscando na frase de uma professora que me
fez uma saudação quando estive ministrando uma palestra na Universidade Federal
Fluminense (UFF) anos atrás, para reforçar o meu argumento que o DCE da UNICAP
assume numa conjuntura nacional onde o movimento estudantil brasileiro e as juventudes no mundo tem
dados respostas em vários momentos em que a situação assim exige, sem contar a conjuntura local em que os
estudantes – principalmente os nomes que assumem o DCE da UNICAP – estiveram
nos protestos públicos em 2012 nos mais diversos locais e das mais diferentes
matizes.
No
contexto mais específico da UNICAP, os membros que assumem o DCE estiveram por
cerca de um ano também dando respostas nas reivindicações mais específicas dos
estudantes, como é o caso da climatização das salas de aula, ao mesmo tempo em
que trabalharam duro para reconstruir o DCE, cuja sigla estava desacreditada e
apagada por ali, sendo o próprio processo eleitoral tão bem representado pela
chapa CONSTRUÇÃO COLETIVA que a chama foi acesa e uma esperança renovada
despertou a estudantada.
Mais
especificamente sobre a posse do DCE, tentarei resumir o que contracenamos.
A
Coordenação dos trabalhos ficaram sob a responsabilidade da estudante de
Matemática, Flávia, que foi da comissão eleitoral durante o processo de
disputas que culminaram com vitória da chapa CONSTRUÇÃO COLETIVA em cima da
VIRAÇÃO.
Foram
chamados para compor a mesa de posse os estudantes que representavam o conjunto
de nomes que fazem parte da gestão empossada, Pedro Josephi e Marcus Vinícius,
a Coordenadora de Graduação, Professora Verônica, o ex-aluno da UNICAP e
ex-Presidente do DCE nos anos 1980, Adelson Gomes, e o ex-aluno da UFPE e
ex-preso político Edval Nunes Cajá.
O vídeo
com as falas iniciais podem ser acessadas aqui:
A
Coordenadora de Graduação, que na ocasião representava o Reitor da UNICAP,
disse em nome da instituição estar aberta “ao diálogo e à parceria” com o DCE
“a partir de agora”, dando os melhores votos para que o grupo definitivamente
tenham uma excelente gestão que “atenda aos anseios de sua representação”.
Verônica
também algo que vai de encontro às
propostas da nova gestão do DCE, que é a
“representatividade dos estudantes nos colegiados dos cursos”, o que na
prática significa ter os estudantes participando das decisões importantes da
Universidade, tendo voz e vez.
Em
seguida, o ex-Presidente do DCE da Unicap na gestão 1980-81 começou a falar que
gostaria de dar “um testemunho do que foi a nossa luta aqui nessa universidade
da minha geração”. Como alguém que
trouxe a história do recomeço do movimento estudantil a partir dos anos
1975-76, inclusive participando da reconstrução das entidades estudantis na
UNICAP, sua fala nos mostra o quadro que se encontrava até então: “Quando
entramos na universidade todos os D.As (Diretórios Acadêmicos) e o DCE
(Diretório Central dos Estudantes) tinham sido fechados e não havia nenhuma
representação estudantil” e “nas salas de aula poucos estudantes ousavam
dialogar, conversar ou questionar os professores”.
Adelson citou o caso de grandes mobilização
do período, como uma greve de vinte dias à época contra o aumento abusivo das mensalidades e a mobilização em
defesa da vida do estudante da UFPE Cajá, que se encontrava preso e havia sido
torturado na Polícia Federal.
Adelson passava nas salas de aulas convocando
os estudantes quando da prisão de Cajá “para defender a vida e combater a
tortura no nosso País”, o que conseguiu,
pois “os estudantes romperam o medo e foram à assembleia”. Foi com esses
exemplos de que é preciso ter coragem para romper o medo e que a participação
política precisa estar presente para mudar as instituições e do País que sua
saudação foi muito elucidativa e buscar passar o ânimo necessário àqueles que
agora começavam uma nova jornada com o DCE.
Em seguida a Cajá foi dada a palavra, que
falou da importância daquele momento de posse do DCE, pois significava “a
culminância da participação política” com a possibilidade do estudante
participar da eleição diretamente, considerando que nos meados dos anos 1970
ainda era prática em algumas universidades (como a UFPE) ter eleições indiretas
para o DCE como ele mesmo analisou na sua fala.
Cajá
falou de sua participação no primeiro ENCONTRO NACIONAL DOS ESTUDANTES (ENE),
que aconreceu no Rio de Janeiro na segunda metade da década de 1970, cujo
objetivo principal era a reorganização do movimento estudantil. Ele historiou
até o então congresso de reconstrução da Uniao Nacional dos Estudantes, que
aconteceu em 1979 na cidade de Salvador-BA, que considera “um ato de desafio à
ditadura”.
A fala
de Cajá tentou o tempo todo fazer uma relação entre o ontem e o hoje de uma
forma bem articulada, principalmente chamando a atenção que o desafio da
participação política ainda é grande, pois “não justifica cada pessoa ficar no
seu mundinho” diante do “período rico da vida”, que é a condição de estudante
ou condição estudantil. Também foi importante Cajá trazer os desafios atuais do
direito à memória, à verdade e à justiça, indo ao ponto com uma pergunta
fulcral aos que acreditam na necessidade de não permitimos afrontas à dignidade
humana: “Se não formos capazes de
conhecer as injustiças que acontecem com
as outras pessoas, que serem humanos somos nós?”
As duas
falas seguintes, que fecham a cerimônia de posse do DCE da UNICAP foram de
estudantes que compõem a direção da entidade então empossada.
O
primeiro a falar, o estudante de Direito Pedro Josephi, fez um discurso
contundente sobre aquilo que nas suas próprias palavras são PRINCÍPIOS
NORTEADORES DA GESTÃO. Sua fala revela a pluralidade, o espírito de luta, o
comprometimento crítico com mensagem que dirige aos seus interlocutores, a
generosidade, a sintonia com os demais movimentos da sociedade, e, acima de
tudo, a coerência. É difícil ouvir um discurso com todos estes elementos juntos, articulados e bem construídos numa linguagem
clara, direta, pontual , consistente e convincente. É um dos discursos mais
representativos que já presenciei.
A fala
de Pedro Josephi resgatou o processo de reconstrução do DCE da UNICAP e a construção da CONSTRUÇÃO COLETIVA, o que
só indica que os nomes não caíram ali de paraquedas, que a atual gestão não foi
imposta de fora para dentro e que a entidade não será um instrumento para
produzir benefícios para poucos mesmo sendo uma entidade que deva ter como
DEVER atender ao conjunto e ao interesse coletivo.
Embora
tenha assumido na última hora o lugar da estudante Luiza (não é a Luiza que
estava no Canadá, que ficou famosa nas redes sociais) para proferir o discurso,
Pedro não deixou de tratar do “papel simbólico e político das mulheres nesse
espaço” (o do DCE), sem contar que foi um representante que esteve à altura na
defesa da diversidade no DCE e na Universidade.
Para
ele, enquanto existe um descrédito nas organizações de massa do movimento estudantil,
que inclusive produz uma autofagia ou até mesmo
uma auto-destruição do movimento estudantil, “nós conseguimos construir
um grupo unitário”, sendo “um desafio que não começou esse ano e começou lá
atrás”.
Foi
assim que Pedro definiu que “esse campo assumiu a responsabilidade histórica da
reabertura do DCE”. Ao dizer que
“através desse protagonismo nos
credenciamos”, situou aos presentes que
o nome da chapa vencedora é “CONSTRUÇÃO COLETIVA na perspectiva de trazer os
estudantes” (para o movimento estudantil), permitindo “que os espaços do
movimento sejam mais horizontais” e “uma construção efetivamente coletiva”.
Ao
dizer que “estamos construindo o que os estudantes querem para o DCE”, “nós nos
colocamos à disposição da comunidade”, “assumimos uma gestão de compromissos
sérios” e que os 1.045 votos da chapa eram
“voto conquistado e de confiança”,
quer mostrar que “um fio de esperança de uma entidade forte para interferir
na vida das pessoas” voltou à UNICAP.
Pedro
disse que a responsabilidade do DCE vai além dos estudantes, porque é um
compromisso com a universidade como um todo, como é o caso do “compromisso de
debater a educação na universidade”, revelar as “inúmeras contradições na
universidade privada” e se “somar ao conjunto do corpo de professores” ao
“ocupar os espaços de colegiado e conselhos”.
Duas
questões magníficas Pedro levantou: “Será que vamos nos isolar cada vez mais
como estudantes?”; “Se não forem nós a assumir esse papel, que
assumirá?”. Aqui se referia em chamar os
professores para a luta, também, pois “é a luta que muda, o resto ilude”.
Em resumo, a fala
de Pedro também enumerou algumas outras questões sobre o DCE e sua proposta:
- “Voz ativa dentro da universidade”;
- “Ocupar esse vácuo deixando pelo movimento
estudantil, é uma responsabilidade histórica”;
- Que as pessoas “possam ter o direito de ser
cidadãos”;
- “Precisamos combater o racismo dentro da
universidade”;
- “Precisamos promover a emancipação social e
política da comunidade LGBT na Universidade”;
- “Nós não vamos recuar no debate sobre as
opressões na universidade”
Pelo que puderam perceber, a fala de Pedro
Josephi foi muita rica, a ponto do outro membro do DCE começar sua fala dizendo
que “não sobrou nada para falar”. Mas mesmo assim a fala de Marcos Vinícius
conseguir percorrer vários outros pontos importantes que também foram falados, reforçando de forma primorosa
o evento, que foi encerrado após a sua fala.
Marcus Vinícius disse ser “essencial a
participação nossa na universidade como estudante”, sendo sentida durante a
campanha que a comunidade apontava para
a necessidade de “ter voz e vontade de se expressar”, o que não era
correspondido, porque o “DCE tinha todo um espaço para atuar e não atuava”.
Mesmo nessas condições, “todo mundo nessa comunidade enxerga a importância de
um DCE”, porque os desafios que ele apontou são enormes.
O espaço vazio deixado pelas gestões do DCE
anteriormente indica que existe “muito espaço para lutar”, que é preciso “fazer
com que a universidade se mexa” e “batalhar para que os cursos tenham Diretório
Acadêmico”. “Esse espaço existe”,
referindo-se a fazer as coisas e dar credibilidade ao movimento estudantil,
fazendo com que aumente o “nível de consciência dam comunidade acadêmica”.
Eis
mais alguns pontos levantados na fala de Marcus Vinícius:
- Reconstruir a estrutura do DCE, que “tem
uma sede deteriorada”;
- “Fazer um seminário de formação”;
- Reorganizar as entidades de base, porque
“dos cerca de 30 cursos, só uns 10 estão organizados”;
- Ampliar os direitos dos bolsistas do
Prouni, como o não-pagamento de taxas, “como se a isenção da mensalidade
resolvesse o problema de acesso ao ensino superior”, o que é percebido na
enorme dificuldades de acompanhamento ou de permanência nos cursos mesmo sem o
pagamento das mensalidades;
-
Cursar “uma universidade com mais bolsas é melhor”, o que significa a
necessidade de ampliar o número de bolsas para atingir ainda mais o conjunto
dos estudantes, porque o déficit é grande;
- Em referente à ampliação do acesso à
biblioteca, disse que a UNICAP “se vangloria como tendo uma das melhores
bibliotecas, mas o estudante só pode pegar quatro (4) livros”.
Pelo
que pude trazer nas linhas anteriores, os estudantes da UNICAP podem ter uma
gestão do DCE para chamar de sua. Quem vai garantir em definitivo o sucesso da
gestão será o conjunto dos estudantes, desde que se envolvam e atendam os
chamados do DCE, que estejam sempre cobrando posicionamentos da entidade
durante todo o tempo e não tenham medo ou vergonha de participar de tudo aquilo
que puderem. Só assim a coisa anda.
*É educador, pesquisador, escritor e documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br
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