O significado simbólico e político da
rematrícula de Odijas Carvalho na UFRPE (PARTE 1)
Por Otávio Luiz Machado*
O ato
de rematrícula simbólica do estudante Odijas Carvalho de Souza na Universidade
Rural de Pernambuco (UFRPE) foi concorridíssimo, pois é uma oportunidade única
que uma ou outra universidade já ousou fazer mesmo diante das centenas de
estudantes que foram desligados, mortos ou desaparecidos pela ditadura
civil-militar quando se encontravam regularmente
Odijas,
que foi preso no início de 1971, tornou-se um mero objeto nas mãos dos seus
torturadores durante dias, com espancamento, sessões de torturas que viravam
noites e só eram interrompidas somente para se limpar o sangue do seu corpo e
deixa-lo repousar rapidamente para que pudesse voltar novamente ao inferno.
Morreu em 08 de fevereiro de 1971 totalmente debilitado pelas torturas.
A
sensibilidade social, política e acadêmica da Reitora Maria José Sena
encontrou-se a luta permanente dos estudantes que compõe o DCE da UFRPE que,
com uma reivindicação justa, merecida e permeado no espírito de luta e na
consciência cívica, visa homenagear o estudante que dá nome ao próprio DCE da
instituição.
O que
todos nós contracenamos na noite do dia 09 de novembro de 2012 no salão nobre
da UFRPE faz parte de um momento ímpar na cena universitária pernambucana, pois
o espírito universitário que marcou e marca a agora centenária Universidade
Rural pôde ser evidenciado na presença e nas falas públicas.
Foi um
evento que não só marcou um encontro de gerações de lutadores sociais, mas que
reafirmou o compromisso da universidade de ouvir e se fazer ouvida socialmente.
Foi um ato plural e de profundo significado para as atuais gerações (e as
seguintes), onde o respeito à pessoa humana, a abertura permanente para o
debate de ideias e o compromisso com o futuro do País precisam permear
discursos e práticas sociais.
O ato
de rematrícula simbólica, conforme a fala de Marcelo Santa Cruz, produziu “um dia inesquecível nessa
universidade”, pois se conheceu atos com profundo significado simbólico e
políticos pouquíssimas instituições universitárias.
Na
nossa pesquisa sobre o movimento estudantil já publicamos textos que tratam
desse simbolismo em outras universidades, como foi o caso da formatura
simbólica de uma turma de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), pois tal cerimônia havia sido impedida pelas forças repressivas
vinculados aos golpistas de 1964. Também publicamos um caso de reintegração de
alunos quarenta anos depois (um grupo
tinha sido desligado no período da ditadura) no Instituto Tecnológico da
Aeronáutica (ITA). Tais dados podem ser encontrados na produção científica do
exitoso PROENGE (Projeto A Engenharia Nacional, os Estudantes e a Educação
Superior), que tive a honra de coordenar e concluir com bons resultados.
Dois
presentes à rematrícula de Odijas na UFRPE foram enfáticos sobre a importância
de tos como o que contracenamos no último dia 09. Marcelo Santa Cruz relembrou
junto com Edval Nunes Cajá o ato de rematrícula simbólica de Manoel Lisboa na
Universidade Federal de Alagoas anos atrás, indo além, ao afirmar que “o
exemplo dessa universidade deve ser para todas”. Citou um dos que poderiam ser
homenageados na Universidade Federal de Pernmbuco (UFPE), o Humberto Câmara
Neto, que estudava Medicina.
Uma
legião de estudantes foram desligados nas universidades pernambucanas, embora
nem todos conseguiram retornar nem mesmo simbolicamente às instituições. Na
relação abaixo todos poderão conhecer
mais quem foi desligado pelo Decreto-Lei 477 nas instituições
pernambucanas.
Faculdade
de Agronomia da UFRPE: Carlos Alberto Lopes Neves; Eduardo José de Almeida;
José Carlos Costa do Nascimento; José Gildo do Nascimento; José Pereira dos
Santos; Jonas Celso Maia de Brito; Juarez José Gomes.
Faculdade de Veterinária da UFRPE: Alberto
Soares da Silva; Antônio Castanha de Souza; Geraldo Paes de Vasconcelos; Glauco
Augusto Duque Porto; Gregório Izaac de Macedo; Jailton Balbino dos Santos;
Joaquim Xavier de Araújo; José Gomes de Lima; José Moura e Fontes; Marcelo
Apolinário de Oliveira; Paulo Eduardo de Andrade; Petrônio Correia Sodré;
Relúcio José Correia de Mendonça; Roberto Leite Targino; Sandino de Albuquerque
Pereira; Veramilton Almeida da Silva.
Faculdade de Direito da UNICAP: Alberto Romeu
Leite; Carlos Eduardo Vasconcelos; João Bosco Tenório; João Marques; José Paulo
Cavalcanti Filho; Paulo Henrique Muniz Maciel; Raimundo Nonato; Rosalvo Melo.
Faculdade de Economia da UNICAP: Francisco
Alberto Alencar; José Ítalo de Andrade; Luis Augusto Pontual; Ricardo Antônio
Vanderley Tavares.
Faculdade de Filosofia da UNICAP: Ana
Cristina Arruda Salgueiro; Ana Elizabeth Salgueiro; Célia Maria Muniz de Brito;
César Augusto Sales de Araújo; Francisco Monte Alverne de Sales Sampaio;
Glauvânia Oliveira Melo; Hugo Farias
Ramos; José Tadeu Colares; Marcos
Vinícios Oliveira de Ataíde; Maria Lia Cavalcanti; Maria do Rosário Collier;
Matilde Maria Almeida Melo; Ricardo José Delgado Noblat; Romildo Rangel do Rego
Barros; Sônia de Miranda Guilliod; Tarcísio Alves da Costa.
Faculdade de Medicina da UFPE: Alírio Guerra;
Luciano Siqueira; Marco Burle.
Faculdade de Direito da UFPE: Eneida Melo
Correia de Araújo; José Áureo Bradley; José Thomaz da Silva Nono (era
Presidente do D.A. de Direito e saiu antes de ser enquadrado); Marcelo Santa
Cruz de Oliveira; Marlene Diniz Villanova.
Num próximo texto analisaremos em maior
profundidade o que foi falado na cerimônia de rematrícula de Odijas na UFPE.
*É educador, pesquisador, escritor e
documentarista. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br
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